tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

segunda-feira, agosto 30

É da casa de Josivandro?

Em volta da Maestria

- Você sabe que para mim não existe o Chuck.
- Ah. Eu sei. Mas você tem que concordar que, de certa forma, ele fez o desenho viver.
- Discordo. William Hannah e Joseph Barbera fizeram o desenho viver.
- Mas dê um pulo no nacional.
- No nacional nada. Tudo aqui é influência de fora.
- Hipócrita!
- Moralista!
- Maestros, maestros...
- Olha, ontem estava analizando um desenhos dos Jetsons.
- Sim...
- Mas que maravilha de biscoitos que você fez, Fred.
- Obrigado, Wilma.
- Mas como falava, os Jetsons são uma monstruosidade influenciada por pensamentos à la Wells e Phillip.
- Discordo.
- Concorda.
- Três a um.
- Por exemplo, o Tutubarão e as blablabla-pussy, são um exemplo de surrealismo aplicado ao medo soberbo das pessoas por coisas grandes e assustadoras. É importante que as pessoas percam o medo e é por isso que é associado a imagem de um tubarão à uma coisa gaga, medrosa e desastrada.
- Concordo.
- Discordo.
- Feliz.
- Falando nele, onde está o Felizberto.
- Tá em outra história. Virou protagonista.
- Ah desgraçado!
- Traidor
- Infeliz!
- ...
- ...
- É, mudando de assunto. Eu mesmo, acho que o Mozart supera mil vezes o Kachaturian.
- Mas que...
- Vamos, vamos. Em volta da maestria, é importante que nós, monstros da maestria das conversas desinteressantes, façamos nossa música ser ignorada.
- Pluft.

sexta-feira, agosto 27

Ronco Feliciano

Felizberto e o olho inchado de lágrimas

- Olá Felizberto.
- Oi.
- Que aconteceu com seu olho, Felizberto?
- Tá inchado.
- Isso eu sei. Mas porque tá inchado?
- São minhas lágrimas.
- E porque não põe pra fora.
- Eu não consigo.
- Tenta apertar o olho.
- Eu não consigo.
- Ah, Felizberto. Pensa em algo triste. Consegue?
- É só pensar.
- ...
- É. Saiu uma lágrima.
- Então? Num tá feliz?
- Porque ficaria? Essa lágrima que sai só dá espaço pra outra lágrima que chega.
- ...
- ...
- ...
- Mais alguma coisa?
- Não. Nada. Tchau.


Doutor Cuervos e a extrema facilidade em comprar ervas afegãs

- Bom dia.
- Boa tarde, senhor. O que deseja?
- Me dê dois pacotes daquele pacote de enrolar fumo, por favor.
- Pois não. O senhor deseja comprar um fumo caribenho?
- O senhor não teria nada mais interessante, hum?
- Como o que, senhor?
- Algo jamaicano.
- Não senhor, aqui não tem nada da Jamaica.
- E algo, sei lá, das margens do São Francisco?
- Não, senhor.
- Ai meu deus. O senhor sabe do que eu tou falando?
- De fumo, senhor.
- É. Mas de que fumo?
- Não sei, senhor. É exatamente isso que o senhor está escolhendo.
- Sei. Eu sei disso. Olha, a coisa que eu quero tem três sílabas.
- Assim o senhor dificulta.
- É, mas não posso falar agora, pois fica muito na cara.
- Isso é um tipo de jogo?
- Mais ou menos.
- Três sílabas?
- É. Uma delícia de erva.
- Serve pra quê?
- Relaxar e cura preocupações adversas, pois você as esquece.
- Ihh. Essa aí num existe não.
- Ah! Me dá meio quilo dessa erva afegã mesmo.
- Essa aqui?
- É. Pra que serve essa maldita?
- E eu sei? Dizem que é bom. Faz pensar rápido e relaxa.
- É, me dá meio quilo dessa mesmo.
- Quer uma marica?
- Tá me achando com cara de maconheiro, cumpade???
- Calma, senhor.
- Qualé? Qualé? Qualé seu nome, cumpade?
- Carlos Onofre, senhor.
- Olhe, seu Carlos, você tá me achando estranho e com cara de maconheiro safado que vai em loja de fumo comprar rolo pra fumo e fica atrás de ervas internacionais, mas eu não sou isso.
- É um renomado médico.
- Me dá essa merda de pacote e vê se esquece que tenho olhos caramelados.

quinta-feira, agosto 26

Polissacramia

Felizberto e seus problemas

- Olá Felizberto.
- Olá.
- Então? Como vai a vida?
- Uma merda.
- Mas porque, Felizberto?
- Porque perdi minha meia preferida.
- Ué? Mas já procurou?
- Eu sei onde está.
- E porque não pega?
- Pois tava dentro do carro. E o carro foi roubado.
- Ihh. Que merda, hein Felizberto?
- ...
- E agora? Porque você não avisou a polícia?
- Eu não podia andar. Tava preso.
- Onde?
- Na polícia.
- Como assim?
- Constipação.
- ...
- ...
- Que merda, hein Felizberto?
- Enorme.


Doutor Cuervos e a Pedra Filosofal

- Bom dia velhos companheiros de guerra.
- Boa noite, Doutor Cuervos.
- O quê? Eu jurava que tinha um sol ali fora.
- O senhor tem duas cirurgias agora de noite.
- De quê, Neuza?
- Uma cardíaca e outra de pedras nos rins.
- Ihhh, Neuza. Hoje acordei com aquela tremeliqueira.
- Pois trate de parar de tremer.
- Preciso te contar algo.
- Pois diga.
- Não aqui. Vamos ali.
- Diga.
- É que eu não posso fazer essa cirurgia.
- Porque não?
- Eu tou vendo cinco vezes mais coisas do que elas realmente existem.
- Como assim?
- Essa cirurgia... vão haver sessenta veias para cada doze que existirem.
- E?
- E o quê, Neuza? Você tá louca? Vai que corto o fio errado?
- Que fio, Doutor Cuervos?
- O fio da vida, Neuza.
- Você tá tirando onda da minha nobre cara, Doutor Cuervos?
- Tá bom!!! Você nunca ouviu falar da bomba relógio?
- Não.
- Se eu cortar o fio errado, ela explode.
- Mas nada vai explodir.
- Ah vai.
- Num vai.
- Ihhh. Já tou vendo a merda.
- Agora vai lá e faça logo a cirurgia.
- Pera. Essa de pedras nos rins eu faço, mas a do coração num vou poder.
- Ah não? E porque pode a outra?
- É que pedra eu já tou esperto em mexer. Puxo uma, jogo ali, mexo daqui, daí rola uma fumaça e tá tudo tranquilo.
- Como?
- Ah nada, Neuza. Você num entende nada.
- ...
- Ainda bem.

segunda-feira, agosto 23

Finesse 2

Pois meus dedos não páram. E aquele velho me aparece na porta apertando uma campanhia que não existia. Tudo bem. Mas que diabos ele quer comigo?

- Boa noite.
- Diga.
- Abra.
- Opa. Pois não.
- Sabe quem eu sou?
- Um corisco aceso?
- Sou Espora do Bigode Aceso.
- Prazer, João.
- Posso entrar?
- Claro. Fique a vontade.
- Sei que você não me conhece, mas conheço você.
- Hm. Pode sentar aqui.
- Obrigado.
- Como se chama seu pássaro?
- Corvus Corax Amarga Âmago.
- Bonito nome. Nome forte.
- Ele é forte.
- Então, o que você faz aqui?
- Vim falar da sua vida.
- Ah é?
- Vamos ao interessante.
- Estou surpreso.
- Wake up.

Como diria um conhecido de Zé Limeira: "Comigo não tem pirrepes!"

Finesse

Até parece o manjobo. Eu quis saber de onde tirava o leite, mas a desgraçada da teta não parava na minha mão. Até que soltei o verbo.

- Isso é uma grande bosta de Eternal Shine e a Espora do Bigode Aceso.
- Mas o quê?
- A desgraça da teta não se sustenta no eixo. Aí eu caio de lado pra tentar jorrar o muco e nada.
- E agora?
- O que faremos?
- Te pergunto.
- Isso é uma grande bosta de Eternal Shine e a Espora do Bigode Aceso.
- Mas não vale apenas ficar reclamando, tem que tentar.
- Você se sustenta no eixo?
- Aí, cai no muco.
- Se levanta, muleque.
- Isso é uma grande bosta de Eternal Shine e a Espora do Bigode Aceso.
- Espera.
- Tá.
- Segura a vaca.
- No rabo?
- Na teta, filha.
- Dela?
- É, da vaca.
- Ah.
- Agora eu puxo o rabo e...
- (risos)
- Isso é uma grande bosta de Eternal Shine e a Espora do Bigode Aceso.
- Vaca nojenta.
- Sai daí, eu tiro.
- Eu dou um tiro em você, desgraça! Vai tirar esse leite sem fazer bosta em mim!
- Afinal...
- Isso é uma grande bosta de Eternal Shine e a Espora do Bigode Aceso.


Felizberto e sua incapacidade de ser feliz

- Enfim, Felizberto, feliz?
- Não.
- Porque, Felizberto?
- Tinha alguém.
- E esse alguém, onde está, Felizberto?
- Paris.
- Fazendo?
- Me traindo.
- E porque você não foi, Felizberto?
- Porque pessoas tristes não viajam de avião.
- Ah não? Desde quando?
- 1943.
- Não sabia. E agora, Felizberto?
- Grandes merdas.
- Pois é. A vida é complicada, Felizberto. E será que não vai sorrir?
- Nunca.
- Mas quando você conheceu ela?
- No check-in.
- Você ia viajar?
- Não. Eu ia colocar as malas dela no avião.
- E você sabe o nome dela?
- Beca Fiste.
- Que nome estranho, Felizberto.
- É.
- E agora? O que você conclui com tudo isso?
- Isso é uma grande bosta de Eternal Shine e a Espora do Bigode Aceso.

quarta-feira, agosto 18

Fotosensibilidade e um pouco de surrealisme nas nossas vidas

Abel e o Menino do Canudo em Introdução ao Canudo

- Oi.
- Hm.
- Eu tava ali sentada e vi você aqui com esse livro.
- Oi.
- O que você tá lendo?
- Moby Dick, Mark Twain.
- E é legal?
- Humrum.
- Você tá quase no fim. O que vai ler depois?
- Num sei ainda.
- Vem cá, tô curiosa. Pra que você lê o livro com um canudo na boca?
- Tou sugando a informação.
- Que informação?
- Do livro. A história.
- Você tá sugando com o canudo?
- Humrum.
- Mas como?
- Me importo com o conteúdo e não me atento a forma.
- Não. Como você suga?
- Puxando com a boca.
- Isso eu sei! Você tá tirando onda comigo, né?
- Quer experimentar?
- O quê?
- Suga esse parágrafo aqui.
- Eu não. Pagar esse mico num ônibus. Olha, tá todo mundo olhando.
- Vai. Suga.
- Tá bom. Como é que... assim eu seguro... e é só puxar?
- Suga.
- Pronto. E aí? Num tou sentindo nada.
- É porque necessita ser digerido.
- Que digerido? O conhecimento vai pro cérebro, não pro estômago!
- Através do sangue. Você come, digere, vai pro sangue, vai pro cérebro.
- Então vai demorar.
- Vai não.
- Nossa!!! Como assim o barco não podia voltar?
- Num sei. Ainda num li o fim do capítulo.
- Nossa. Que incrível isso. Como você aprendeu?
- Hm.
- Vai, diz!
- Hm.
- Num pode dizer?
- Hm.
- Tá bom. Fica como nosso segredo. Prazer, Abel.
- Menino do Canudo.
- Prazer. E então, quando você acabar de ler, deixa eu ler esse livro?
- Num pode.
- Como assim?
- As informação que saem daqui, nunca mais voltam. Eu nunca vou saber o que havia no parágrafo que você sugou.
- Jura?
- Humrum.
- Meu deus. Então isso tá errado! Você não pode simplesmente roubar as informações dos livros.
- Eu não roubo, adquiro.
- Não, você rouba.
- Wake up.


Dr. Cuervos contra o monstro da Sala de Parto

- Bom dia, Doutor Cuervos.
- Boa noite. Para mim, o dia não existe mais.
- Ah não? Porque?
- Neuza. Vamos deixar para depois essa conversa mole.
- Que mole o quê, Doutor?
- Olha Neuza, tive uma noite difícil.
- Me fale, Doutor.
- Não dormi.
- Ah não? Porque?
- Bateu uma forte.
- Uma o quê, Doutor?
- Uma. Bateu forte. Me deixou louco. Ficava pensando em mil coisas. Aí não sabia com que sonhava. Ora me vinha um unicórnio vermelho com olhos verdes, bonitos olhos verdes. E aí eu me dizia: "Não. Não quero sonhar com isso". E daí era uma fila de personagens querendo que eu sonhasse com eles. De tão indeciso, não sonhei porra nenhuma. Acordei com essa olheira.
- O senhor sempre teve essa olheira.
- Ah é. Mas ela tá maior.
- E que você fumou pra pensar nisso tudo?
- Neuza? Você ouviu alguém gritar seu nome?
- Não, Doutor Cuervos.
- Pois é. Acho que vou ali na sala de cirurgia.
- Não. Você tem que ir no setor de pediatria pois o obstetra vai te passar umas especificações para um parto que você vai fazer.
- Eu???
- É. Você.
- Puta que pariu. Vou parir um monstro.

- Boa noite nessa merda.
- Bom dia, Doutor Cuervos.
- Cadê a miserável que terá o monstro.
- Aconteceu alguma coisa, Doutor?
- Claro! Vou parir um monstro!
- Calma, Doutor.
- Puta merda. Respira feito um cachorro satânico, minha senhora, que esse é dos grandes com asa.
- Do que ele tá falando?
- Nada, apenas respire calma.
- Puta que pariu. Olha o tamanho da cabeça desse monstrinho.
- Que monstrinho?
- Calma,minha senhora.
- Primeira asa já saiu.
- Que asa?
- Respira, respira.
- O rabinho.
- O que é isso?
- Respira, respira. Cachorrinho.
- Não, é o satanás mesmo!
- Ahhhhhhhhhh!
- Nasceu.
- Encarnou! Que alguém adote o maldito e essa minha fotosensibilidade por partos!

segunda-feira, agosto 16

Exercício de Diálogos Atônitos

Godofredo e as formigas aprendizes de Wells

- Mãe?
- Diz, Godofredo.
- As formigas voadoras são a evolução das formigas terráqueas, certo?
- Não. Elas são mutações genéticas alteradas pela radiação dos celulares.
- Ah é? E a senhora num tem medo de ficar com asas usando seu celular não?
- Godofredo. Eu não sou uma formiga.
- Mãe... as formigas podem viajar para o passado?
- Não, Fredinho. H.G. Wells só existiu para os humanos.
- Mas eu encontrei uma formiga morta no meu travesseiro e depois ela tava viva na pia.
- Mas era outra formiga.
- Não. Num era.
- Era.
- Num era.
- ERA!!!
- Ah tá bom. Num vou discutir com você, que nem viu a formiga morta e nem viu a viva.
- Tá na hora de dormir, Godofredo.
- Eu sei que era a mesma pela cor dos olhos.
- De quem?
- Da formiga, ora bolas. E além do mais, as duas eram mancas da mesma perna.
- Godofredo. Você venceu. A formiga era a mesma. Ela morreu, depois conseguiu voltar no tempo e ir pro futuro e apareceu para você na pia.
- Engraçado. Mas acho que você tá dizendo isso só pra eu ir dormir.
- Não. Que é isso...
- Mãe. Você acha que eu sou besta. Mas tenho um olho em você e outro nas formigas. Tou de oio.
- Boa noite, fredinho.
- Tou de oio!



Doutor Cuervos na Ala Infantil

- Bom dia companheiros de guerra.
- Bom dia, Doutor Cuervos.
- Então, o que temos para hoje?
- Bem, o senhor não tem nenhuma cirurgia...
- Perfeito. Vou para casa.
- Nan-nan-nin-nan-não.
- Como?
- Eu disse não. Hoje você vai pra Pediatria.
- Nada disso!
- Porque não?
- Eu tenho HORROR a criança!
- Perfeito. Assim você se livra de todos hoje mesmo.
- Pelo amor de deus, Neuza! Num faça isso comigo!
- Ala das Crianças, setor treze.
- Eu te imploro de joelhos, Neuza. Choro em teus pés.
- Larga meu pé, Doutor. Você sabe que precisa cumprir uma carga horária.
- Meu deus do céu. Você não sabe como eles são horríveis, dentes enormes, cabelos arrepiados.
- Doutor Cuervos! Levante-se! Isso é forma de se comportar num hospital. E ainda sendo o cirurgião chefe!
- Olha aí! Eu sou o cirurgião chefe! Qualquer coisa que tem a palavra "chefe" no meio do nome dá a característica de ocioso a personalidade do indivíduo.
- Como?
- Eita, espera. Eu não consigo falar tudo de novo.
- Doutor Cuervos, o senhor anda meio estranho nesses últimos seis anos.
- Ah! Agora você notou. Finalmente Neuza, finalmente, me demite.
- Eu não. Porque demitiria?
- Pra eu ir pra casa!
- Mas você vai todos os dias a noite.
- É. Mas eu quero ir um dia de tarde.
- Pra quê?
- Pra fu.. pra... pra furar uma parede. Meu vizinho sofre de ataque de eplepsia causada por alto índice de barulho.
- E isso existe agora?
- Não. Mas devia.
- Doutor Cuervos, o senhor tem que ir agora para a Ala das Crianças. Boa sorte.
- Ai meu deus. Vou precisar.

- Quem é o primeiro paciente?
- Ele se chama Carlos Onofre Júnior, doutor.
- Cadê esse bendito?
- É aquele baixinho.
- Aquela loira é a mãe?
- Não. O pai.
- Hoje não é meu dia.



sexta-feira, agosto 13

Exercício de Diálogos Afônitos

Inverso do Oipócorp

- Alô?
- Pois não.
- É do hospício?
- É sim. O que deseja?
- Falar com um louco.
- Pois não. É o próprio.
- Procópio?
- Pois não, senhora.
- Prócopio, seu filho de uma égua. Você dominou o hospício de novo?
- Quem deseja?
- Gertrudes, seu panaca! Sua mulher!
- Não está. Quer deixar recado?
- Ô seu babacóide antedeluviano! Sou eu, a Gertrudes. Seu monstro abissal.
- Só um minuto. Vou passar para a Ala dos Monstros.
- FIlho da...
- Alô?
- Quem fala?
- É o louco.
- Procópio?
- Pois não, senhora.
- Ô grande filho da puta! Vou denunciar a revolta no hospício.
- Um grande passo para um formiga.
- Como? O que você disse?
- Primeiro o Sanatório Juca Sales, depois o mundo.
- Procó...
- Socialismè!!!
- Espera só, pra você ver. Eu vou aí te dar uns tiros.
- Digite 9 se deseja falar com o revólver.
- Procópio, seu monstro!
- Aguarde na linha, estou transferindo para a Ala dos Monstros.
- Desgraçad...!!!
- Alô?
- Ahhhhhhhhhh!


Doutor Cuervos e sua insistente forma de conseguir não trabalhar

- Bom dia companheiros de guerra.
- Doutor Cuervos, o senhor está atrasado para a sua cirurgia de coração.
- Meu coração vai bem, muito obrigado.
- Não, você é o cirurgião.
- Bem, eu nem cheguei a ser fera no curso.
- Como assim?
- Vamos, que vamos! Onde está o paciente?
- Na sala de cirurgia, doutor.
- Mas como?
- Como o quê, Doutor Cuervos?
- Quem vai fazer a cirurgia? Eu ou ele?
- Você, doutor.
- Ah não! Meu coração vai bem, muito obrigado.
- Não doutor. Você vai fazer a cirurgia e ele se submeter.
- Ao quê?
- Ao quê o quê, doutor?
- Se submeter ao quê?
- A cirurgia, doutor.
- Da sala?
- Como assim "da sala"?
- Da sala de cirurgia.
- Meu deus, o senhor tá bem?
- Eu tou muito bem, obrigado. E a senhora?
- Meu deus. Doutor, o senhor precisa ir pra sala.
- Que sala?
- A sala de cirurgia, cacete! Ops. Desculpe.
- Certo. Onde fica?
- Ai meu deus! Me segue, faz favor.
- Te cegar? Não obrigado. Faço cirurgias de coração.
- Não, doutor. Eu disse me segue! Segue do verbo seguir.
- Então siga.
- Siga o quê, doutor?
- Num sei. Você que disse aí que ia seguir.
- Puta que pariu. Eu tou louca ou o senhor tá tirando uma comigo?
- Tirando uma o quê?
- O quê?
- O que quê?
- Caralho!
- Opa. Qual foi Neuza? Tá chamando é porque tá precisando!
- De quê, doutor?
- Daquilo, ué.
- Daquilo o quê, doutor?
- Ué, daquilo, ué.
- Meu deus. Eu falo grego?
- Num sei. Atapuken!
- O que é isso?
- Não fala!
- O quê?
- Você não fala grego.
- Ahhhhhhhhh.
- Que foi?
- Nada. Nada Doutor Cuervos. Você está dispensado do trabalho de hoje. Vá pra casa descansar.
- E fumar um.
- O quê?
- Ifumaro.
- Que é isso?
- Você não fala grego.
- ...

quarta-feira, agosto 11

Insista e não persista. Exercícios Anônimos de Diálogos.

Carlos Onofre e sua paixão infantil por mocotó

- Manhé!!! Ô Mãe!
- ...
- Mãe!!! Trás aquele pote de mocotó aqui no quarto.
- ...
- Manhééééé!!! Trás o pote de mocotó!
- ...
- Manhéééééééééééééééé! Pote de mocotó!!!
- ...
- Mãe?
- ...
- Mãe? Você tá na cozinha?
- ...
- Mãe, o que você tá fazendo no chão?
- ...
- Mãe?
- ...
- Tá dormindo?
- ...
- Mãe?
- ...
- Mãe! Mãe! Acorda! Acorda! Num morre. Acorda!
- Bu! Panaca! Caiu de novo!
- (chorando) Mãe, você mentiu pra mim.
- "Mãe, você mentiu pra mim". Vai, chora, panaquinha! É igual ao pai. Além de besta, é fresco.
- Ô mãe, num fala essas coisas.
- Que é você quer? Dinheiro, é?
- Não mãe. Eu queria o pote de mocotó.
- Tá na fossa.
- Ahm?
- Eu comi, bestão!
- Mas mãe. Eu comprei aquilo pra mim.
- Deixe de mão-fechadismo, Carlos Onofre Júnior. Além do nome, parece que puxou todo o resto do pai. Comi aquela merda e da merda que ele me fez fazer, irá nascer mais merda na fossa das merdas nessa merda de casa.
- Mãe...
- Que é, panaca?
- Aquilo não era mocotó. O mocotó eu comi faz uma semana. O que tava ali era um pouco de geléia de tamarindo com gengibre que serve para...
- Para quê?
- Para...
- Fala, panaca!
- Mãe...
- Que é, filho da égua? Pra quê?
- ...
- Mas é tão fresco que desmaia! Acorda Carlos Onofre. Acorda! Acorda!
- Arrá! Te peguei! Panaca!!!

Esse final não era esperado. Por isso cortamos as verbas para produção desse capítulo da vida de Carlos Onofre. O medo que tivemos com o processo judicial por Danos Morais, colocado pela senhora Gertrudes Onofre, nos fez reduzir o salário de Carlos Onofre, que agora vira figurante de outras histórias fantásticas. Agradecemos sua participação na leitura desse mais nobre capítulo da vida de Gertrudes Onofre. É, de Gertrudes, a velha surrealistè.


Como Doutor Cuervos conheceu a morte

- Ding-dong!
- Deixa que eu abro a porta.
- ...
- Quem é?
- Dona morte.
- Ah. Errou a casa senhora. O escolhido foi o paciente da casa 13, depois da fonte.
- Ah obrigado.
- Mas pera aí...
- Sim...
- A senhora precisa entrar e conhecer meu calendário da Pirelli.
- Como?
- Vamo entrando.
- Mas...
- As mulheres mais lindas de todo o planeta sentadas em pneus, carros velhos e engrenagens envelhecidas por processos de ferrugem artificial.
- O...
- E não tem como resistir. Olha só.
- ...
- Sem palavras, hein Dona?
- ...
- É de matar, não?
- ...
- E o que é isso aí crescendo no seu vestido, dona?
- Ahm?
- Arrá! Podem sair galera. Ganhei a aposta. A Dona Morte é homem!
- (risos tristes) Pow, Cuervos, você sempre ganha essas apostas!
- (risos eufóricos) Eu sou grande mesmo!
- (risos melacólicos) E num aposto mais.
- (risos de platéia desperadamente eufóricas) Maior mesmo, só o poder da morte!
- ...
- Qualé senhor Morte? Num vai falar nada?
- Feliz dia das bruxas, filho da puta.

segunda-feira, agosto 9

Faça-me.em-açaF um texto.otxet mu

Doutor Cuervos se revela um distinto desmascarador de farsas

- Assim como você pode enchergar a minha mão, você também encherga o mundo, Otávio.
- Não, Doutor Cuervos. A único coisa que consigo ver são mãos.
- Sei, sei. Então observe minha mão. Que movimentos elas fazem?
- Hmm. Estão batendo palma.
- Otávio, você é cego, mas não é surdo.
- Como assim?
- (risos) Se fosse manco, não andava até a porta.
- Como assim, doutor?
- (risos eufóricos) Nem se ouvisse direito, ouviria o que estou falando.
- Doutor...
- (risos megalomaníacos) Mudo, falaria pra si mesmo coisas que ninguém quer escutar.
- (chorando) O Doutor tá me deixando assustado...
- (risos de platéia estrondosa) E aquela parede roxa, carrega em si uma boca melada de batom.
- ...
- Senhor Otávio. O senhor anda traindo sua mulher?
- Co-co-como Doutor?
- Não se faça de sonso.
- Como assim?
- O senhor anda traindo sua mulher. Por isso inventou essa cegueira besta.
- Não fale assim comigo!
- Ah não? Porque? O que senhor vai fazer, senhor Otávio?
- Irei bater no senhor.
- E como vai me achar?
- Maldito!!!
- Desvendei seu mistério, senhor Otávio! Através de minhas risadas mal criadas!
- O senhor é um monstro opressor!
- (risos macabros de filmes de terror madrugais) Eu sou o Doutor, Doctor, Doctore, Doutor Cuervos!
(Aranhas saem de buracos, morcegos voam pelo teto, ratos correm pelos chãos e uma caveira para aulas de ciência começa a andar pela sala).
- Ahhhhh! Ratos! Morcegos! Aranhas! E uma caveira horripilante! Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!
- Ohhh! Podem subir a parede.
- Ahm? Como assim?
- Senhor Otávio, o senhor acabou de se mostrar uma pessoa normal perante o medo. Sua mulher, a distinta e gostosíssima Dafne Albuquerque, acompanhou todo seu showzinho por trás dessa parede falsa, emprestada dos desenhos do Scooby-Doo ( A Hanna-Barbera doou seu cachê para os doentes mentais). E agora, senhor Otávio, o que o senhor tem a dizer?
- Wa-paba-lumba-doo-wa-pem-bu! Tutti-frutti!
- Ele está louco! Levem-o daqui! E a senhora Dafne, levem-na para o escritório roxo, precisamos fechar contrato.


sexta-feira, agosto 6

Exercício de Diálogos Anônimos, porque Carlos Onofre merece o retorno

A Infelicidade de Gertrudes Pós-Parto

- Alô?
- Alô?
- Tá ouvindo?
- Alô?
- Gertrudes! Tá me ouvindo?
- Alô?
- Mãe!!! Tá me ouvindo?
- Alô? Vai falar não?
- Ah merda. Mãe!!! Mãe!!! Põe o aparelhinho no ouvido!!!
- Alô? É trote? Vai falar não?
- Caralho mãe! Eu tou gritando no meio da rua. Num me faz pagar esse mico.
- Isso é pra você aprender, Carlinhos. Deixe de ser tão panaca.
- Putz mãe, você tava fingindo?
- Vai! Diz o que tu quer? É dinheiro, né?
- Não mãe! É que criei o plano perfeito pra a revolução!
- Ah é? Que bom, Carlinhos. Deixe de ser panaca e vai trabalhar, filho da égua!!!
- Pow mãe. Acredita em mim. Eu vou mudar o mundo.
- Carlos Onofre Júnior, eu sei que seu parafuso tá aqui em casa. Mas nem pense em vir pegá-lo. Vai continuar sem ele na sua cabeça de cocô!
- Mãe, acredita em mim, só mais essa vez!
- Tá. Prefiro acreditar em vendedor da Herbalife do que em você, seu panaca!
- Ô mãe! Caralho! Vou aí te encher de porrada.
- Ah é? Então vem! Que ainda falta um tiro na pistola. Falando nisso, como tá seu ombro, Carlos Onofre?
- Tu, tu, tu, tu, tu.


Os Risos do Doutor Cuervos Pós-Fumo

- Doutor Cuervos, como irá ser estabelecida a cirurgia?
- Num sei. Vamos ver aqui.
- Mas..
- O paciente quer mudar de sexo?
- É senhor.
- Mas quer virar homem ou mulher?
- Esse é o problema, Doutor.
- Que problema?
- Não encontramos o pênis dele.
- É ele?
- Acredito que sim.
- Como se chama?
- Cindy.
- Cindy é nome de puta.
- Cindy é nome de traveco.
- (risos) Não. Cindy é nome de putinha safada da avenida paulista.
- (risos histéricos) Não. Não. Cindy é nome daquelas raparigas de buteco no interior.
- (risos ultra histéricos com lágrimas) Não, não. Cindy é nome daqueles travecos da bundona que ficam na esquina do Ritz!
- (risos de platéia histérica) Não. Cindy é nome daqueles...
- Hum-rum. O anastesista já chegou? É que a sala tá fria e meus rins doem por causa das pedras.
- ...


quarta-feira, agosto 4

Exercício de Diálogos Anônimos, parte daquele meio e um sexto

Lubrimax

- Bom dia, em que posso ajudá-lo?
- Olha, eu tou ligando pra fazer uma reclamação.
- Só um minuto. Irei passar para o Departamento de Reclamações.
- Bom dia, em que posso ajudá-la?
- Ajuda-la, ajuda-lo! Sou homem. Quero fazer uma reclamação.
- Desculpe senhor. Você adquiriu que produto?
- O lubrificante para peles sensíveis.
- Só um minuto. Irei passar você para o Departamento de Lubrificantes.
- Bom dia, em que posso ajudá-lo?
- Puta que... eu quero fazer uma reclamação de um produto.
- Pois não, senhor.
- É que eu comprei o Lubrimax...
- Licença, senhor. Você comprou o Hard, o Sensível ou o Plus Intensive?
- Um segundo. Foi o Plus Intensive Sensível.
- Esse não existe, senhor. Ou Plus Intensive ou Sensível.
- Caralho. Tá escrito aqui na embalagem.
- Qual a cor da embalagem, senhor?
- Amarela.
- Essa não existe, senhor.
- Como não existe?
- Nossas embalagens são da cor verde, azul e vermelho. Você poderia ler para mim novamente o nome do produto?
- Lubrimax Plus Intensive Sensível.
- Desculpe, mas você foi transferido para os Preservativos Lubrimax e não lubrificantes Lubrimax.
- E agora?
- Só um minuto, senhor. Irei transferi-lo para o setor dos Clientes Perdidos no Atendimento.
- Pois não, senhor. Em que posso ajudá-lo?
- (em grave crise de choro) Eu só queria saber porque diabos o meu pinto está cheio de manchinhas vermelhas se comprei um lubrificante para peles sensíveis. Estou aqui há uma hora e não descobri porra nenhuma. Pelo amor de deus, moça, resolva isso pra mim.
- Só um minuto, senhor. Vou transferi-lo para o Departamento de Clientes com Grave Crise de Choro.
- Não, nã...
(Tunununum. A Lubrimax faz os melhores produtos pra melhor servi-lo. Tununununum. Aguarde na linha para conseguir suas respostas. Tununununum)
- Digite 1 se seu problema for gástrico. Digite 2 se seu problema for cardíaco. Digite 3 se seu problema for psicológico. Digite 9 se deseja falar com uma de nossas atendentes.
- 9.
- Em que posso ajudá-lo, senhor?
- Como se chama?
- Cindy.
- Cindy. Nome de puta mesmo. Num resolve merda nenhuma.
- Desculpe, senhor. Não entendi.
- Cindy, é o seguinte. Meu nome é Pablo Teodoro, estou com um grave problema.
- Sim.
- Comprei um Lubrimax...
- Parabéns, senhor Pablo. Você é o milésimo cliente a ligar nesse setor e acaba de ganhar uma linha dos produtos Lubrimax.
- Ah é??
- Sim, senhor.
- Sério? Vocês entregam em casa?
- Claro senhor. Por favor, me passe seu endereço.

Noelle Meira, procurada há três anos pela polícia, foi capturada em flagrante quando tentou assassinar um cliente dos produtos Lubrimax. Noelle Meira, que usava um pseudônimo de Cindy, conseguiu o endereço do cliente quando se infiltrou nos computadores da empresa. Noelle Meira é conhecida pelos seus atos de vandalismo e pelo assassinato de cinco clientes de outras empresas de lubrificantes e preservativos. A Lubrimax já disse que irá contemplar o cliente com uma nova linha de lubrificantes para peles sensíveis, uma linha inovadora no mercado.

terça-feira, agosto 3

Living la vida loca (uma tentativa de sair desses títulos todos iguais)

Mi Diego

- Então você me ama?
- Sim.. não.. quer dizer.. ainda não sei.
- Então se decida, homem!
- É que tenho medo.
- Medo de quê?
- De tropessar.
- Não sinta medo.
- ...
- ...
- ...
- O que você está pensando?
- Ai meu deus, lá vem você com isso de novo. Será que num posso ficar calado um segundo.
- Calma, só tou perguntando.
- E é exatamente isso que é chato. Deixa eu pensar em paz. Os meus pensamentos são meus. Se eu quiser expô-los, você vai ficar sabendo.
- Vai, diz, o que você tava pensando?
- Puta que pariu Júlia, deixa eu pensar em paz!
- Calma. Você tá muito agoniado. É melhor a gente conversar depois. Vai dormir.
- Não Júlia. A gente conversa agora!
- Tá bom. Pra mim, a conversa acabou em: O que você estava pensando?
- PUTAQUEPARIU!!! Será que você não desiste dessa merda?
- Vai, diz.
- E se eu estiver mentindo?
- Eu sei, mi Diego, você não vai mentir pra mim.
- Caracoles. Tu é chata pra caralho, Júlia.
- Hum.. que foi que passou nessa cabecinha?
- Se eu te esgano ou te decepo a cabeça.
- Vai Dieguinho, fala pra mim, fala.
- ...
- Diego, volta aqui, onde você vai?
- Buscar a faca, já fiz minha escolha.


Como Carlos Onofre mudou o mundo

- Alô? É do jornal?
- É sim. O que você quer?
- Opa! Calma lá! É assim que se trata um assinante?
- Meu senhor, mil desculpas. Mas o que o senhor desejaria?
- Saiu uma notícia aí com meu nome. Quero que ponham uma carta de desculpas ou me dêem a liberdade da palavra pra justificar o fato, quer dizer, o engano cometido por vocês.
- Como o senhor se chama?
- Carlos Onofre da Fonseca.
- Só um minuto. Senhor Carlos, aqui não consta nenhuma notícia com seu nome. Muito obrigado e volte sempre.
- Pe-pe-pera aí! Dê uma olhadinha de novo, moça. Na página de esportes, última matéria do canto direito.
- Só um minuto, senhor Carlos. Sim, aqui consta apenas Carlos Onofre.
- Rá! Sabia! Num existe outro Carlos Onofre em toda Versinópolis.
- Senhor, como você prova que esse Carlos Onofre é o senhor?
- Porque aí diz o seguinte: Carlos Onofre, torcedor do Bahia, disse que o clube anda meio falido...
- Meu senhor, isso não prova nada.
- Caralho! Eu não torço pro Bahia! Tira isso daí! Eu sou Vitória! Imagina se meus amigos da calabreza lêem uma coisa dessas. E o Betinho chega todo dia com as notícias na mão.
- Meu senhor, esse é um caso muito simples. É apenas desmentir o que eles estão lendo.
- Como a senhora se chama?
- Neide.
- Neide, você num tem noção do que é torcer pro Vitória e sair no jornal que você torce pro miserável do Bahia!!! Puta que pariu, Neide, me dá um tempo. Qualé?
- Meu senhor, eu odeio futebol e não acho nada interessante você ficar falando palavrões pra mim.
- E agora? O que é que eu faço?
- Diz que o Carlos Onofre é seu parente.
- Eu num tenho parente, Neide! Me salva!
- Então tá bom. Manda pra mim sua carta de justificativa que eu ponho no jornal.

O movimento revolucionário socialista conseguiu dar um grande passo na comunicação através de uma carta em forma de justificativa anexada no Jornal de Versinópolis. Um revolução foi iniciada nessa pequena cidade na divisa de Bahia com Espírito Santo. Focos revolucionários já foram anunciados em mais outras cento e quatro cidades, entre elas treze capitais. Outros países também iniciaram seus focos em pequenas e grandes cidades. Bruxelas, Rotterdam, Glasgow, Dublin e Moscou já estão parcialmente dominadas. A ingenuidade e inocência das pessoas abriu portas para que os socialistas anarquistas se movimentassem pelos grandes meios de comunicação. Agora só nos resta esperar sentado nosso prato de comida grátis. E nada de Big Mac, no more.

segunda-feira, agosto 2

Exercício de Diálogos Anônimos, parte três e um terço

Alfredinho

- Ah Miserável! Ela me paga. Além de ter arrancado o quadro, rasgou a tela.
- Bom dia, amor.
- Olha aqui sua jararaca...
- Sabe quem eu vi lá fora no jardim?
- Quem?
- Seu pai.
- Meu pai? O que ele tá fazendo aqui?
- Vai perguntar a ele.
- Tem certeza que não é o seu pai?
- Não. É o seu.
- Não. Aquele ali é seu pai.
- É, mas o do lado é o seu.
- Não. Aquela ali é sua mãe.
- Você tá louco, Alfredo? Minha mãe morreu ano passado!
- Calma amor, eu me confundi. Porque desgraça é pouca pra gente ruim.
- O que você quis dizer com isso?
- Que além de você ter rasgado meu quadro do Hopper, chamou o desgraçado do meu pai aqui pra me cobrar o dinheiro que devo. E junto, de presente, vem seu pai, pra me encher o saco com perguntinhas clichês, à la: "Como está o timão?", "Já tem a nova furadeira Black and Jack?", "Já viu o novo modelo do Mustang?".
- O seu quadro do "Hopper" foi o seu maldito filho que rasgou.
- Que filho?
- O único que você tem. Aliás, um dos quatro únicos que você tem?
- Do que você tá falando, Roberta?
- Que Roberta o que Alfredo? Esqueceu meu nome foi?
- Meu bem, o que está acontecendo?
- Alfredo! Diga agora o meu nome!!!
- Meu docinho... seu nome é... Ro...
- Ro o quê, Alfredo? Desde quando foi adicionada essa sílaba miserável. Diga, infeliz! Diga! Alfredo Simões Bastos, você enconstou...
- Pe-pe-pera aí! Que Alfredo Simões Bastos é esse, hein? Esqueceu meu nome todo, vagabunda?
- Alfredinho...
- Agora sou eu que não entendo mais nada. E desde quando essa casa é amarela.
- Alfredinho...
- Eu nunca comprei um fogão seis bocas.
- Alfredinho...
- Sua vagaba! Que merda de papel de parede é esse? Panelinhas!
- Alfredinho... acho que você errou a casa.
- ...


Teorias

- Somos feitos de teorias. Somos parte metafísica, parte bioquímica.
- E o que isso quer dizer, professor?
- Não sei. Mas mandaram eu dizer isso. Malditos ditadores.


Spomodoro.

- Então a gente resolver passear pela ilha grega.
- A gente não, Robertinho, eu!
- Então fomos num baile gay que tinha próximo ao hotel. Ah! Foi ótimo. Aí a gente descobriu um restaurante ótimo. Francês.
- A gente não, Robertinho, eu!
- E passeamos de barco pelo Mediterrâneo. A gente conseguiu um desconto ótimo!
- A gente não, Robertinho, eu!
- Num foi ótimo, Flavito?
- Graças a mim, Robertinho.
- E aquele barco que a gente conheceu no porto. Cheio de marinheiros robustos.
- A gente não, Robertinho, eu!
- Olha, sua bicha estúpida! Você nem fala grego, nem sabe o que quer dizer Spomodoro e muito menos consegue se virar sem essa merda de cadeira de rodas. Então cala o bico, porque sou eu que te empurro.
- Graças a mim, Robertinho.