tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

quinta-feira, novembro 29

Ato de pensar

"Tava parando pra pensar nessa história de ficar pensando...", assim ele começou a palestra. Sabá já vinha em uma grande jornada isolado do mundo, onde tentara se concentrar em si, mas acabara se abrindo de uma forma que foi influenciado por toda e qualquer forma de vida próximo dele. De aranhas e besouros a todos os cidadões da pequena vila onde ia comprar um pouco de arroz. Sabá era um aventureiro de espírito e desses não se encontram muitos. Nessa jornada, Sabá tinha mudado bastante, mas de uma forma regressiva.

"... e pensar é talvez o gesto mais cansativo e penoso ao qual já senti e vivi. Não existe uma linha, como o ator de comer, onde você tem fome, come algo e descansa a comida. Pensar é sem limites, é sem hora, é sem lugar. É agorinha mesmo. Vocês todos calados aí, eu fico me perguntando (pensando) o que vocês estão a pensar. Mas deveria eu?". Sabá sempre contestava as razões das coisas. Ele não acreditava em livros, apenas em sua próprio experiência das coisas. Não falava em Deus, não gostava de dinheiro e fazia muito tempo que não se perdia por um entretenimento. Não sabia se era feliz, pois a própria definição da felicidade pro Sabá era estranha.

"Devo eu me pre-ocupar com o que vós estão a pensar? Não dou a mínima. Minha vida é ligada dentro de mim, não dentro dos outros. Mas penso, e penso novamente, que talvez eu precise é realmente parar de pensar. Não somente essa voz na minha cabeça, mas essas borboletas na barriga, esse fogo no peito, essa agitação no pulmão e finalmente desligar o meu pensamento e apenas sentir meu corpo". A história do corpo era uma coisa engraçada. Ele vinha com umas comparações malucas de árvores e animais com o ser humano. Mas de certa forma (bem exotérica), ele tinha razão. Sabá sabia uma coisa ou outra.

"Então aqui eu deixo uma palavra, e nela vocês se baseiam para o resto da vida, conecte ela com outras palavras, forme frases, textos, argumentos, declarações, monografias, defesas de doutorado, sina de vida, religião, partido político e até uma palestra besta como essa: paz. Entre em paz com vocês mesmos. Obrigado". É, ele sabia de muita coisa.

terça-feira, novembro 27

aquela vasta idéia da vida

Como não perdoar uma mulher que trai, se mesmo o soldado mata sem o fardo.


***

imagem: gigante caído no chão, com a cara enterrada na terra molhada de uma chuva de dois dias e um garoto com um echarpe vermelho e cueca tocando na sombracelha do grandalhão.

terça-feira, novembro 20

sobre ele

Então, venho falar do Manuca. Que sujeito. Cheio de dúvidas na cabeça, cheio de graça divina, com repentes de cortar qualquer rimador bandido, tocava viola também, era matemático nato, mas vivia numa montanha-russa de sentimentos. Sua grande macarronada de embaraços e nós na vida era seu bendito coração. Talvez por ter sido tão pisado, ou diria, congelado, adotou uma postura certamente desassociada da sua personalidade. Era um rapaz alto, grande Manuca. Possuia aqueles olhos que fazem petróleo cair de preço. E uma vez usou um echarpe lindo, azulado, com um castor na borda, que o ventou se esfriou pra dar sentido à moda. Parecia que tudo caminhava ao seu redor, mas para ele era o contrário, ele que vivia dando voltas em volta de si. Que estranho. Manuca tinha um jeitinho estranho de comentar as coisas, via tudo por baixo. Mas todos escutavam como se ele estivesse por cima. Grande rapaz. Não compreendia como a vida funcionava, mas tinha construído seu próprio sistema de túneis subterrâneos, para onde corria nos dias difíceis. Adquiriu asas no dia 7 de novembro e desde lá vem sobrevoando as cidades com seu sorriso largo, de quem finalmente descobriu que existe um caminho a se trilhar, e que os visitantes estão aqui apenas temporariamente. Ele agora já vê o pico da montanha e pensa em um pouso para uma pausa. É hora de meditar. Grande Manuca.

quinta-feira, novembro 8

um romance à valentina

o que eu queria era admirar tu comendo a manga com sal

...

fumando, de rabo de olho

...

vendo seu vestidinho numa dança epilética ao vento, enquanto você mordisca a manga que chora lágrimas amarelas no seu queixo, dessas que desce entre os seios, chamando por um vento que seque pra que adoce o corpo

...

mistura isso com suor no pós-manga, vira uma santa ceia