tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

segunda-feira, dezembro 20


De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos começando,
A certeza de que é preciso continuar e
A certeza de que podemos
ser interrompidos antes de terminar

Fazer da interrupção um caminho novo,
Fazer da queda um passo de dança,
Do medo uma escola,
Do sonho uma ponte,
Da procura um encontro,

E assim terá valido a pena existir!

Fernando Sabino

sábado, dezembro 18

De certa forma

Existia um casal interessante lá na rua. Ele usava perucas ruivas, mesmo sendo um morenaço soteropolitano. Ela pintava as unhas de vermelho-puta. Ah! Tinha um gato estranho. Gorducho e meio desengonçado. Eles formavam um casal estranho, mas eram felizes (aparentemente). Certo dia o Marcelo, filho do vizinho daqui de casa, resolveu ir vender uma rifa escolar na casa do casal. Nunca mais voltou. E quem é que é doido de ir lá? Eu mesmo, sonhei com o Marcelo um dia desses e ele me falou que o casal é da polícia e que matavam sem preocupação alguma. Eu, hein? Bem que eu suspeitei daquela peruca ruiva!

E num é que o maldito acertou na sena. Ah! Miserável! Quer dizer, miserável é a última coisa que ele é agora. Desgraçado. Com certeza vai comprar o carro que disse que ia ter um dia. Corno. Ainda acho que a mulher dele tá dando pro açougueiro. Minha mulher fala que não. Mas quem é que, no cu do mundo, vai pedir uma picanha cortada ao modo especial. Porra. Estamos em inflação. Otário. Ele vai é gastar a grana toda e vai ficar liso feito um porco. Avareza vai destruir ele. Vai comer ele. Viado. Ai que raiva. Agora ele vai pra Fernando de Noronha e contar tudo sobre a água cristalina das praias de lá. E eu? Vou continuar naquele emprego de merda, coçando o saco e pegando nos peitos da secretária no coffee break. Ah merda! Babaca. Só se ganha na sena uma vez. Picareta. Vigarista. Tou com fome. Vou comer o resto do almoço mesmo. Só tem isso mesmo. Filho da PUTA!

- De certa forma.
- De certa forma o quê, Reginaldo?
- Você tá certa, mas só de certa forma.
- E o que isso significa?
- Metade certo, metade errado.
- E isso existe desde quando?
- Desde quando determinaram o que era certo e errado.
- Ah! Eu num sou besta pra cair nesse papo de meia tigela.
- Tá vendo! Papo de meia tigela, de certa forma... é tudo metade.
- Então agora, estamos metade brigados e metade divorciados.
- De certa forma.
- A quincas d'água!


sexta-feira, dezembro 17

Fértil

Astúcia era o apelido de Ferdinando. Filho de pais separados, sempre separados. Sua irmã tinha um problema com relacionamentos duradouros, mas nada que duas semanas de lágrimas não curasse. O Antônio, pois era assim que ele chamava seu tio, morava com eles, dormia na mesma cama que a mãe e adorava chá de camomila. Detalhe é que ninguém sabia, mas O Antônio era irmão do pai.

Joselita fazia faxina todas as quartas na casa da Eliana. Ou era na casa do Senhor Tomás? Não lembro. Ela fazia faxina. Sofria de rinite e tinha crises brabas quando trabalhava. Demorava cerca de cinco dias para se curar. Daí vinha a maldiita faxina novamente.

Venâncio era tio-avô de uma menina linda, a Isobel. É com "o" mesmo. Estranho, não? Mais estranho era que o Venâncio, no auge dos seus 93 anos, ainda dava banho na menina, que diga-se de passagem, era uma meninona. Que traseiro. A Isobel tinha ficado para o titio, como diz o ditado. O seu problema é que era dislexa e esquecia de tudo, para sempre. Só não esquecia do Venâncio. Até que um dia... ele se esqueceu e não voltou mais.

Aninha era tão travada, que quando lia um livro do Veríssimo, guardava o riso para soltar durante o banho. Pobrezinha. Ela tinha um paquera, meio galã de novela, que esnobava pra ela um ar de "sou o foda". Mas o que mais encantava nele era o fato de só ela saber que ele tinha broxado com uma amiga, que infelizmente, morrera num acidente de carro. Não era só isso... ela tinha fotos. Esses casalzinhos modernos que registram momentos de intimidade... sei não.

São quatro criaturas distintas. Mas tão iguais.

sábado, dezembro 11

De tanto em tanto

De tanto em tanto dou uns passos largos.
De tanto em tanto dou passo atrás, meio receoso, meio do passado.
De tanto em tanto tenho orgulho do meu sorriso.
Pára o coração.
Respiração, disritmia.
De tanto em tanto sinto calafrios.
De tanto em tanto morro num sono e acordo sem piso.
Sobe escada, desce elevador.
Faz uma arte, mata o leiteiro.
Eu sou brasileiro, sei o que é dor.

Vôo.
Alguém morre, visita.
Pulo.
Caio nos braços dela, insista.

De tanto em tanto sou arco no Arpoador.
De tanto em tanto sinto frio, medo, morte e amor.
Mas nunca em tanto fui tão certo de mim
Nunca quis tanto alguém que me perfuma feito alecrim.
Esse nunca aprendi a nunca usar.
Sei que ele limita ao infinito.
E saber que o infinito é tão pouco do que desejo amar.

Sei lá.

segunda-feira, dezembro 6

Balbucie um beijo

Penso que pena que seja pouco
Só penso em pensamento que pode te procurar
De cá, de lá Baile, beijinho, beijo, beijoca o "B" da brincadeira, brinquedo balbuciar

Ciar, Ciar

Tintirintirin tintirintirin tintirin My love lua da lenda longe me leva lá

- Conto de Fraldas, Tom Zé