tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

quarta-feira, julho 20

Dentro de mim existe mais que o que não vejo, um demônio guardado, num setembro que não chegou


"Ao seguir aquele vulto
Que percorria o labirinto
Descobri que era eu mesmo oculto
Dentro das coisas que sinto
E que só sei dizer em prosa e verso
E quando as canto eis que pronto surge
A rosa do universo
Que desfila ao meu lado
Entre as mãos de um negro anjo alado
Que distribui lá do meio da neblina e da fumaça
A graça que vem de cima e vem de graça

Porque é a graça e é divina"
Caetano e Jorge Mautner

E de todos seres, nunca imaginei mais linhas tortas que se tornassem lindas, belas, perfeitas por serem exatamente tortas. O que de começo me pareceu uma fantasia, agora se transforma em sonho. E sei, tento até, que quando durmo, meus sonhos me querem enganar as idéias. Mas sou mais auspicioso que esse maldito Morfeus. I'm devil's daughter.

Foto: Sol

quarta-feira, julho 13

Das intervenções divinas


Algumas linhas continuam, outras nem chegam a ser delineadas.

Não acho que a morte chega pro alívio. Acho que Deus tem seu mau humor, seu bom humor e seu humor negro. Maldito. Acho que às vezes ele faz pra chocar mesmo. Às vezes chega a dar uma fagulha de esperança de vida e aí, pumba!, cai-se morto. Maldito. Acha que quando tá de mal humor é o pior? Nessas horas ele cria guerras, doenças incuráveis, fome, loucos assassinos e até uma instituição que, representando ele, conduz um genocídio massivo idiota. "É Deus, meu filho!". Nem preciso dizer o que acontece no bom humor. Não vem ao caso. Mas o pior mesmo é o humor negro. Maldito. Porque alimentaram isso nele? Quando chega o humor negro não existe cristão que resista. Nem mesmo Deus resiste. Seria pegarmos uma paródia dos sete dias da criação. Ou fazer grandes trocadilhos divinos. Deus não ri da própria desgraça, ri da desgraça alheia. Ri dos inocentes. Dos excluídos. Da maioria. Ri até das próprias piadas infatis. O que nós, meros mortais, chamamos de Lei de Murphy, é o estágio mais fraco do humor negro deste ser onipotente. Chegamos ao absurdo de haver desaparecimentos, mortes inexplicáveis e até aparições de pessoas que nunca existiram.

Não acho que as pessoas morrem para punir. Não morrem para deixar saudade. Não morrem para pagar o que fizeram. Morrem para satisfazer um desejo que não é nosso e nunca vai ser. Não temos o poder de determinar nada. Somos determinados. Em tudo. E quando você pára e acorda com um pesadelo, no escuro, escuta um risinho causado pelo vento. Maldito, é ele rindo de mais uma travessura.

A tristeza causada pela morte de alguém sempre nos causa uma raiva das divindades. E é aí que entra a validade desse texto. Talvez a mesma não dure dois dias, quinze lágrimas, seis músicas tristes, cinco garrafas de cerveja, dois minutos nostálgicos ou até mesmo o tempo em que você acaba de ler essa frase. Vai entender!


foto: Sol e seu flash colorido artificialmente.

sexta-feira, julho 8

A referência e o conteúdo


"apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme"
Paulo Leminski, Apagar-me

segunda-feira, julho 4

Da longa história da minha vida


Eu, Tita, Julieta, Pedro e Tomás na Praia de Pioli, Poiveta.

Das longas datas que me lembro, as mais doces foram com Tita. Aprendi a viver com ela. Não existia vinho que se comparasse com a sua saliva. Existia a beleza nas coisas pequenas (algumas até grandes, né Tita?). Amei Tita sempre como se fosse minha irmã. Existia mais amor na gente do que a gente mesmo sabia. Ontem, numa comidinha aqui em casa, entre amigos e queijos e vinhos, Tita me lança uma pergunta: "O que você acha desse casal aqui?". Ela não perguntara sobre qualquer casal na sala, mas sim de nós mesmos. Parei. Estagnei. Admito que só agora pude definir uma resposta. Essa pergunta num se faz de supapo. Mata-se um sapo numa dessas. Já comeram rã? Um delícia. Comemos num inverno que passamos em Cuba. Estávamos numa praia chamada Laguna Del Prata e comemos num bar próximo da zona rural. Uma delícia. Mas voltando, estava discorrendo (ela adora esse verbo) sobre Tita. Divina. Lembro que quando vi seus seios pela primeira vez, e isso faz uma data duas vezes mais longa que a idade dos meus filhos, eles tinham um rosado que me tentava como morangos. Silvestres, Bergman. Ela adora o Bergman. Tentei demonstrar para Tita que aquela resposta não poderia ser dada ali, através de um olhar quase que certeiro. Mas "erreiro". Hoje sei que não vivo sem a Tita e nem meu passado. O que mais me motiva a viver é saber que cada ano, cada mês, cada dia, cada hora, cada cama, cada lágrima, cada lama, cada mágica, cada pedra, cada agonia, cada merda, cada folia, cada cozinha, cada mordida, cada carinha, cada partida, cada gozada, cada medo, cada olhada, cada dedo, cada sorriso, cada dente, cada risco, cada lente, cada carne, cada boca, cada charme, cada coca, cada minima alegria foi ao lado de minha Tita. Não sei o que dizer a Tita, não sei responder. Não sei o que somos, pois nem sei se somos te tanto saber que somos com certeza. É como a lucidez excessiva que leva a loucura. É como amar Tita e não querer mais nada nessa vida.

P.S.: A Julieta está puxando meu casaco para eu colocar um beijo pra você. Então, seguem dois. E uma mordida.

Sebastian