tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

sexta-feira, janeiro 12

Shanté

É tudo que a gente encontra quando a gente não tá procurando. Sabe como é? Você procura as chaves, acha um dinheiro no sofá. Procura o café no supermercado e acaba de frente com aquela latinha de cappucino que sua mãe fazia quando você era pequeno. Acho que o destino (e que estranho usar essa palavra) nos recompensa de certa forma. Você procura pela paz e encontra o nirvana. É o encontro dos rios.

Quando ela nasceu, parecia um catoco de madeira bruto, pronto pra ser modelado, esculpido, cortado e lixado. De acordo com as leis astrais, ela nasce num final de março, preparada no berço de Áries. Seus lábios tem uma leveza torta da imperfeição divina. É como Duchamp pintar o bigode da Monalisa e o próprio Da Vinci concordar que aquela imperfeição é extremamente perfeita. É tudo bem calculado. Parece junção de perfeições. O que não existe, mas a gente acredita que exista. Os olhos com curvas ascendentes, hipnotizam peixes facilmente. Conquista qualquer que seja a reação. Eles se movem independente do desejo próprio, eles tem vida própria e amam sua dona. As mãos tem a leveza e o peso exato do centro do equilibrio de uma balança (talvez desajustada). E o sorriso é parte de um sonho de cortinas de teatro que se abrem para um espetáculo. É tudo arte. O olho capta, a boca canta e as pernas acompanham. Chanter, mon amour.

Ela cruza as pernas e pede um café. Sem açúcar, por favor. Insiste num papo cabeça que acaba em descrições de praias e lugares paradisíacos no Brasil. Pede uma torrada francesa.
- Como tava te falando, eu não acredito nessas histórias de falar demais e num fazer.
- Pois bem, o que você propõe?
- Fazemos e depois falamos.
- Sobre?
- Qualquer coisa.
- E depois.
- Deixa chegar o depois, aí a gente vê o que faz.
- Deixa te dizer uma coisa.
- Já vai na segunda.
- Não quero ver teu sorriso indo embora.
- ...
- ...
- ...
- Agora é o depois?