tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

quinta-feira, abril 28

Ao som de um preâmbulo


E não tirava dos ouvidos os assobios suaves de uma guitarra chilena, que lhe chorava toda a história de sua vida, de dó a sol, sem si, sem lá, sem mim.

Se tu falas de comida, prefiro a música. Ela alimenta e nem cessa. Ok, ok. Finas fatias, mas se nem separar a gema da clara eu sei, como vou cortar uma fina fatia da música que num cessa. Não solte aquele riso folgado, tou vendo daqui. Agora acho melhor você fechar os olhos e tentar dormir, nem que use um daqueles comprimidos de tarja preta. Da tarja preta nasce um daqueles capetinhas do Michelangelo. Talvez enviado pelo próprio Morfeu. Feu. Eu. Talvez dormindo os dias passem rápido e nos sonhos acaba se resolvendo tanta coisa. Lá não tem destino, dream is destiny. Balbuciarei-vos cada letrinha. Boa degustação.

domingo, abril 24

Daquela Mala e a Coca-Cola


Lanço suave, uma tampa daquela garrafa, que pousa como um pássaro no lago raso dos teus lábios.

Daquela Mala

Era uma segunda e tinha escrito em letras pequenas e corpo 13, "Solitude d'Cavan Hades - RB - 98392". Na manhã de antes, estava a carne toda amassada a socos, na beira de uma janela, sendo contemplada e deliciada pelas moscas da vizinhança. Era de vaca. Mas hoje não é ontem, devemos falar do momento. Estava num placa metálica e tinha código de abertura. Era uma bela de uma valise. Estava ali, a cerca de 13 centímetros da faixa amarela limitadora. Um assovio ao longe. Tava chegando o trem. Alguém esquece a valise na estação. Era marrom, não sei se pintam o couro, mas nunca vi marrom em boi daquele jeito. Eu tinha tomado uma coca-cola minutos antes. Não sei se era inverno no norte ou verão no sul, mas fazia um frio danado na minha barriga. Aquela coca-cola congelou tudo que estava dentro de mim. Só deixou meu coração batendo pra continuar tendo seu consumidor. "Não queremos a queda de usuários", declara Van Stiller Baudhein, supremo-assessor pra assuntos gerais, para uma revista comercial, naquela mesma época. Peguei a mala, nem contestei. Mala? Valise! A pessoa devia ser rica, afinal tinha assinatura da d'Cavan Hades. Era uma Solitude. Comprada em 92. Mas quem era RB? Ronaldo Bittencourt? Rogério Bertollini? Era rico. Era Rico. Ricardo Barreto. Quis acreditar assim. Ele era um esquecido mesmo. Lembro quando deixou a mulher numa loja de langeries e levou a roupa dela pra casa, achando que voltava da lanvanderia. Foi um escandâlo. Mas veja as vantagens do esquecimento: perceba a felicidade do peixe, que bate com a cara no aquário e um minuto depois esquece que vive numa caixa de vidro. Morre por isso? Alguns sim, outros não. Já tive peixes suicidas. Mas aquela maldita valise estava no meu colo, indo de São Pedro Garacela para Praça da Pedra. Tem gente que chama de mala, eu chamo de valise. Daquela mala, nada se sabia. Eu num sabia abrir ela e o dono talvez nem se lembrasse da cor dela, que era o tal marrom transgênico. Três semanas se passaram, e todos os santos dias, enquanto esperava o trem, pousava a mala no mesmo canto que encontrei, esperando um bendito de um funcionário da VincentLoud, empresa de Rico, vir procurar por ela. Nada. Um velho ainda veio me perguntar um dia onde tinha comprado. Era daqueles safados. Mas sabia que encontraria Ricardo Barreto, o homem que nunca existiu, que esqueceu a valise que nunca existiu, na estação de trem que nunca foi construída. Tudo isso porque preciso de algo pra acordar de manhã, preciso de algo pra poder levantar depois da queda, preciso de algo pra pensar enquanto tomo um café no intervalo do trabalho. Preciso dessa valise.

Em busca do meu jardim, que já existe, que sabe que eu existo, mas ainda não viu seu jardineiro. Vou cercar com uma cerquinha marrom, desses que boi nenhum possui.

quarta-feira, abril 20


É nesse micro-instante que você decide se se esconde atrás de um parede caiada, que pode cair a qualquer momento, ou dar seus pequenos passos para abraçar a vida, que te observa numa fantasia de anjo negro. Não vale fazer cara de emburrada.

sexta-feira, abril 15

Vamos que vamos


a gente nos picos chilenos

POEMA COMEÇADO NO FIM

Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando: parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear, eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres, e o sol da tarde, imaginai o que era o sol da tarde sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.

Adélia Prado, a qual vem se revelando vidente dos meus passos

É nesse encosto de madeira, uma cadeira de outrora, que apoio todo o peso sobre meus ombros. Me estabeleço em equílibrio comigo mesmo. Você me pergunta: "queres a dança?". Mas insistes em negar tua própria pergunta. Porque? Se não queres a dança, deixa que eu danço só. Os passos eu criei de noite, do final do domingo. Tava com um sorriso na cara e a esperança nos olhos. Ah esperança maldita! Cria tanta coisa na nossa cabeça. Eu queria ser um liquidificador, pra titurar todas as coisas e fazer uma baita vitamina sem gosto nenhum. Queria sair e comprar um montão de elepês, um tanto pra mim, um tanto pra você. Mas é nesse encosto de madeira que tou agora, pensando na saia rosa de outrora. Aquela maldita!

segunda-feira, abril 11

Bee and Zee effect


como um ritmo sem passos certos, tortos e desajeitados, continuemos a dança

Como botões que abrem
Bordões que se atrapalhem
Meia palavras desconexas
Olhar de almas nada convexas

Um colo, um copo, uma erva
Nada com nossos olhos
Que não nega
Que não nega
Nada nega

Me perdi na tentativa
Mas o importante não é a rima
Mas sim o que se passa
Através das letras escondidas

quarta-feira, abril 6

Semsionn


"O outono é o prenúncio da primavera
O anúncio de vida nova pra quem espera
O homem se renova
E a natureza se regenera"

Tentei por várias vezes escrever um soneto aqui. Mas tudo que escrevia eram pensamentos um pouco sujos, que não quero que saiam. Fica pra mais tarde.

segunda-feira, abril 4

Árvores secas ao léu

Afinal chegou o outono.

Cai a última folha. Caem algumas gotas. Caem várias. Afinal é outono, sessão das gotas, das mortes, das quedas, das idas, do equinócio, do frio. Adoro frio, mas não gosto do outono. Nasci no outono, mas sou ovelha desgarrada. É a hora em que as coisas que deviam ter plenitude, acabam envelhecendo e morrendo. Mas sigamos a continuidade de tudo. Tudo há de ser verde novamente, para que possa haver outro outono. E lá vamos nós.

Daí chega o inverno, ou inferno. Boba letra que se confude. Pra quem tem artrite, é uma delícia de sessão. E tem alguns que até curtem uma dor no inverno. Há aqueles que preferem fugir e os que se mantem escondidos. Fico na classificação dos que sentem dor no inverno. Afinal, não haveria clímax nessa história, se eu ficasse com os que fogem. Por isso, vou acabar fugindo e acabando a história por aqui, sem clímax mesmo. Deixa eu passar como um vento frio na sua barriga, como um sono na rede numa varanda sob a chuva. Chocolate quente, por favor.

"Quero que você me aqueça..."