tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

sábado, novembro 29

Os Óculos do Drummond


Estátua de Drummond é alvo de vândalos pela sétima vez


SOLANGE SPIGLIATTI - Agencia Estado

SÃO PAULO - A estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, que fica na Praia de Copacabana, zona sul do Rio, foi alvo de vandalismo pela sétima vez. Na madrugada de quinta-feira, a haste direita dos óculos foi furtada. Dessa vez, o aro direito dos óculos foi arrancado e a estátua amanheceu incompleta. No entanto, a prefeitura não soube informar quando a peça foi danificada.

Inaugurada em 2001, esta é a sétima vez que a estátua é danificada. A prefeitura do Rio informou que uma empresa foi contratada para fazer o conserto dos óculos sempre que houvesse algum dano.


Sempre soube. Arturo Pessoa vinha de Minas Gerais, é um aficcionado por Rodin e sempre admirou bastante a esperteza do tal divino espírito santo de colocar dois grande seres na Terra: Mahatma Gandhi e Carlos Drummond de Andrade. Desde que se apaixonou por Vitória, não largava o livrinho de poesias que possuía, gasto nas bordas e amarelo por vários motivos (entre um desses, um café amargo que derrubara em um verão antigo, sem amores). Possuia na arte da fala, o desejo delicioso pelas rimas e as suspirava todos os dias nas franjas de Vitória. Era bonito de ver aquilo. Ela rindo, olhos sem piscar, lambendo uma colher de sorvete e ele lá, olhos arregalados, interpretando Drummond como se fosse o próprio. E talvez até achasse que fosse.

Arrumou emprego em uma empresa do ramo de restauração de prédios antigos. Odiava o pó, mas amava a arte, as ervas e as uvas. Acabou que recebeu uma ordem de serviço bem diferenciada. A pobre da estátua do seu alter-ego estava sendo destruída por alguém da cidade. Não permitiu isso. Consultou a ordem de serviço e viu que tinham arrancado o polegar e um pedaço da orelha esquerda da estátua do Drummond. Foi no outro dia averiguar a destruição. Percebeu que a orelha aparentava ter sido mordida, mas não acreditou muito no que viu. Mas o que mais lhe incomodou eram os óculos do poeta. Ele sabia que Drummond nunca usaria óculos com aquele desenho e corte especial, tinha algo errado ali e ele tinha que analisar melhor. Passou a pesquisar na Biblioteca Municipal todo o acervo gráfico de fotos do poeta e conseguiu encontrar bastante material para poder refazer a estátua. Passou três dias inteiros trabalho na orelha e no polegar e mais cinco refazendo o óculos. Acabou repondo todas as peças na estátua, mas ele ainda percebia que algo estava errado. Passou meses tentando encontrar soluções e passou a ser o próprio cidadão que arrancava as partes do óculos para poder receber uma ordem de serviço e refazer da forma que achava apropriado. A loucura subiu em sua cabeça e uma coleção de partes de óculos e pedras se acumulavam em sua casa. E sua vida se tornava uma obsessiva busca pelo óculos verdadeiramente "Drummonístico".

Há de quem achasse que era realmente vandalismo, na verdade, todo mundo achava isso. Mas o Arturo sabia da verdade. Ele sabia também que nunca conseguiria o formato do óculos perfeito, pois ele lhe faltava a parte mais importante: o olho vivo por trás da lente.

terça-feira, novembro 11

canarvalismo e outras histórias marítmas

Foi quando ele parou. Parou e olhou aquele mar infinito, aquele bando de luzes dançando num véu aquático, um reflexo do deus sol, puro e sutil desenho divino. Ali ele olhou, olhou e olhou para todos os detalhes, tentando encontrar pistas do que viria a pensar em seguida. E dentro de sua cabeça, pensou em várias linhas de pensamento, em possíveis conquistas, perdas e descobertas. E fez uma grande descoberta. Parou para pensar que na verdade a vida é como a praia. O mar ali na frente é o mundo, imenso, infinito, cheio de possibilidades. E ele se encontrava ali, diante do mundo, acompanhado por outras pessoas de vestimentas mínimas, porém completamente solitário. Se percebeu sozinho em si, em dó, ré, lá, mi, em mim. Se percebeu "eu", e por isso conseguia enchergar tudo que ali estava. Até que o vento lhe assobiou uma pergunta: "Se a vida é isso, qual o sentindo dela?". Ele parou novamente, pensou novamente. Suas sombrancelhas se engilhavam de tanto pensar. Até que saiu debaixo da sua língua, a resposta em apenas uma palavra: "Nadar."


"Continue a nadar, continue a nadar"