Exercício de Diálogos Atônitos
Godofredo e as formigas aprendizes de Wells
- Mãe?
- Diz, Godofredo.
- As formigas voadoras são a evolução das formigas terráqueas, certo?
- Não. Elas são mutações genéticas alteradas pela radiação dos celulares.
- Ah é? E a senhora num tem medo de ficar com asas usando seu celular não?
- Godofredo. Eu não sou uma formiga.
- Mãe... as formigas podem viajar para o passado?
- Não, Fredinho. H.G. Wells só existiu para os humanos.
- Mas eu encontrei uma formiga morta no meu travesseiro e depois ela tava viva na pia.
- Mas era outra formiga.
- Não. Num era.
- Era.
- Num era.
- ERA!!!
- Ah tá bom. Num vou discutir com você, que nem viu a formiga morta e nem viu a viva.
- Tá na hora de dormir, Godofredo.
- Eu sei que era a mesma pela cor dos olhos.
- De quem?
- Da formiga, ora bolas. E além do mais, as duas eram mancas da mesma perna.
- Godofredo. Você venceu. A formiga era a mesma. Ela morreu, depois conseguiu voltar no tempo e ir pro futuro e apareceu para você na pia.
- Engraçado. Mas acho que você tá dizendo isso só pra eu ir dormir.
- Não. Que é isso...
- Mãe. Você acha que eu sou besta. Mas tenho um olho em você e outro nas formigas. Tou de oio.
- Boa noite, fredinho.
- Tou de oio!
Doutor Cuervos na Ala Infantil
- Bom dia companheiros de guerra.
- Bom dia, Doutor Cuervos.
- Então, o que temos para hoje?
- Bem, o senhor não tem nenhuma cirurgia...
- Perfeito. Vou para casa.
- Nan-nan-nin-nan-não.
- Como?
- Eu disse não. Hoje você vai pra Pediatria.
- Nada disso!
- Porque não?
- Eu tenho HORROR a criança!
- Perfeito. Assim você se livra de todos hoje mesmo.
- Pelo amor de deus, Neuza! Num faça isso comigo!
- Ala das Crianças, setor treze.
- Eu te imploro de joelhos, Neuza. Choro em teus pés.
- Larga meu pé, Doutor. Você sabe que precisa cumprir uma carga horária.
- Meu deus do céu. Você não sabe como eles são horríveis, dentes enormes, cabelos arrepiados.
- Doutor Cuervos! Levante-se! Isso é forma de se comportar num hospital. E ainda sendo o cirurgião chefe!
- Olha aí! Eu sou o cirurgião chefe! Qualquer coisa que tem a palavra "chefe" no meio do nome dá a característica de ocioso a personalidade do indivíduo.
- Como?
- Eita, espera. Eu não consigo falar tudo de novo.
- Doutor Cuervos, o senhor anda meio estranho nesses últimos seis anos.
- Ah! Agora você notou. Finalmente Neuza, finalmente, me demite.
- Eu não. Porque demitiria?
- Pra eu ir pra casa!
- Mas você vai todos os dias a noite.
- É. Mas eu quero ir um dia de tarde.
- Pra quê?
- Pra fu.. pra... pra furar uma parede. Meu vizinho sofre de ataque de eplepsia causada por alto índice de barulho.
- E isso existe agora?
- Não. Mas devia.
- Doutor Cuervos, o senhor tem que ir agora para a Ala das Crianças. Boa sorte.
- Ai meu deus. Vou precisar.
- Quem é o primeiro paciente?
- Ele se chama Carlos Onofre Júnior, doutor.
- Cadê esse bendito?
- É aquele baixinho.
- Aquela loira é a mãe?
- Não. O pai.
- Hoje não é meu dia.
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