tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

segunda-feira, agosto 2

Exercício de Diálogos Anônimos, parte três e um terço

Alfredinho

- Ah Miserável! Ela me paga. Além de ter arrancado o quadro, rasgou a tela.
- Bom dia, amor.
- Olha aqui sua jararaca...
- Sabe quem eu vi lá fora no jardim?
- Quem?
- Seu pai.
- Meu pai? O que ele tá fazendo aqui?
- Vai perguntar a ele.
- Tem certeza que não é o seu pai?
- Não. É o seu.
- Não. Aquele ali é seu pai.
- É, mas o do lado é o seu.
- Não. Aquela ali é sua mãe.
- Você tá louco, Alfredo? Minha mãe morreu ano passado!
- Calma amor, eu me confundi. Porque desgraça é pouca pra gente ruim.
- O que você quis dizer com isso?
- Que além de você ter rasgado meu quadro do Hopper, chamou o desgraçado do meu pai aqui pra me cobrar o dinheiro que devo. E junto, de presente, vem seu pai, pra me encher o saco com perguntinhas clichês, à la: "Como está o timão?", "Já tem a nova furadeira Black and Jack?", "Já viu o novo modelo do Mustang?".
- O seu quadro do "Hopper" foi o seu maldito filho que rasgou.
- Que filho?
- O único que você tem. Aliás, um dos quatro únicos que você tem?
- Do que você tá falando, Roberta?
- Que Roberta o que Alfredo? Esqueceu meu nome foi?
- Meu bem, o que está acontecendo?
- Alfredo! Diga agora o meu nome!!!
- Meu docinho... seu nome é... Ro...
- Ro o quê, Alfredo? Desde quando foi adicionada essa sílaba miserável. Diga, infeliz! Diga! Alfredo Simões Bastos, você enconstou...
- Pe-pe-pera aí! Que Alfredo Simões Bastos é esse, hein? Esqueceu meu nome todo, vagabunda?
- Alfredinho...
- Agora sou eu que não entendo mais nada. E desde quando essa casa é amarela.
- Alfredinho...
- Eu nunca comprei um fogão seis bocas.
- Alfredinho...
- Sua vagaba! Que merda de papel de parede é esse? Panelinhas!
- Alfredinho... acho que você errou a casa.
- ...


Teorias

- Somos feitos de teorias. Somos parte metafísica, parte bioquímica.
- E o que isso quer dizer, professor?
- Não sei. Mas mandaram eu dizer isso. Malditos ditadores.


Spomodoro.

- Então a gente resolver passear pela ilha grega.
- A gente não, Robertinho, eu!
- Então fomos num baile gay que tinha próximo ao hotel. Ah! Foi ótimo. Aí a gente descobriu um restaurante ótimo. Francês.
- A gente não, Robertinho, eu!
- E passeamos de barco pelo Mediterrâneo. A gente conseguiu um desconto ótimo!
- A gente não, Robertinho, eu!
- Num foi ótimo, Flavito?
- Graças a mim, Robertinho.
- E aquele barco que a gente conheceu no porto. Cheio de marinheiros robustos.
- A gente não, Robertinho, eu!
- Olha, sua bicha estúpida! Você nem fala grego, nem sabe o que quer dizer Spomodoro e muito menos consegue se virar sem essa merda de cadeira de rodas. Então cala o bico, porque sou eu que te empurro.
- Graças a mim, Robertinho.