tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

quarta-feira, agosto 18

Fotosensibilidade e um pouco de surrealisme nas nossas vidas

Abel e o Menino do Canudo em Introdução ao Canudo

- Oi.
- Hm.
- Eu tava ali sentada e vi você aqui com esse livro.
- Oi.
- O que você tá lendo?
- Moby Dick, Mark Twain.
- E é legal?
- Humrum.
- Você tá quase no fim. O que vai ler depois?
- Num sei ainda.
- Vem cá, tô curiosa. Pra que você lê o livro com um canudo na boca?
- Tou sugando a informação.
- Que informação?
- Do livro. A história.
- Você tá sugando com o canudo?
- Humrum.
- Mas como?
- Me importo com o conteúdo e não me atento a forma.
- Não. Como você suga?
- Puxando com a boca.
- Isso eu sei! Você tá tirando onda comigo, né?
- Quer experimentar?
- O quê?
- Suga esse parágrafo aqui.
- Eu não. Pagar esse mico num ônibus. Olha, tá todo mundo olhando.
- Vai. Suga.
- Tá bom. Como é que... assim eu seguro... e é só puxar?
- Suga.
- Pronto. E aí? Num tou sentindo nada.
- É porque necessita ser digerido.
- Que digerido? O conhecimento vai pro cérebro, não pro estômago!
- Através do sangue. Você come, digere, vai pro sangue, vai pro cérebro.
- Então vai demorar.
- Vai não.
- Nossa!!! Como assim o barco não podia voltar?
- Num sei. Ainda num li o fim do capítulo.
- Nossa. Que incrível isso. Como você aprendeu?
- Hm.
- Vai, diz!
- Hm.
- Num pode dizer?
- Hm.
- Tá bom. Fica como nosso segredo. Prazer, Abel.
- Menino do Canudo.
- Prazer. E então, quando você acabar de ler, deixa eu ler esse livro?
- Num pode.
- Como assim?
- As informação que saem daqui, nunca mais voltam. Eu nunca vou saber o que havia no parágrafo que você sugou.
- Jura?
- Humrum.
- Meu deus. Então isso tá errado! Você não pode simplesmente roubar as informações dos livros.
- Eu não roubo, adquiro.
- Não, você rouba.
- Wake up.


Dr. Cuervos contra o monstro da Sala de Parto

- Bom dia, Doutor Cuervos.
- Boa noite. Para mim, o dia não existe mais.
- Ah não? Porque?
- Neuza. Vamos deixar para depois essa conversa mole.
- Que mole o quê, Doutor?
- Olha Neuza, tive uma noite difícil.
- Me fale, Doutor.
- Não dormi.
- Ah não? Porque?
- Bateu uma forte.
- Uma o quê, Doutor?
- Uma. Bateu forte. Me deixou louco. Ficava pensando em mil coisas. Aí não sabia com que sonhava. Ora me vinha um unicórnio vermelho com olhos verdes, bonitos olhos verdes. E aí eu me dizia: "Não. Não quero sonhar com isso". E daí era uma fila de personagens querendo que eu sonhasse com eles. De tão indeciso, não sonhei porra nenhuma. Acordei com essa olheira.
- O senhor sempre teve essa olheira.
- Ah é. Mas ela tá maior.
- E que você fumou pra pensar nisso tudo?
- Neuza? Você ouviu alguém gritar seu nome?
- Não, Doutor Cuervos.
- Pois é. Acho que vou ali na sala de cirurgia.
- Não. Você tem que ir no setor de pediatria pois o obstetra vai te passar umas especificações para um parto que você vai fazer.
- Eu???
- É. Você.
- Puta que pariu. Vou parir um monstro.

- Boa noite nessa merda.
- Bom dia, Doutor Cuervos.
- Cadê a miserável que terá o monstro.
- Aconteceu alguma coisa, Doutor?
- Claro! Vou parir um monstro!
- Calma, Doutor.
- Puta merda. Respira feito um cachorro satânico, minha senhora, que esse é dos grandes com asa.
- Do que ele tá falando?
- Nada, apenas respire calma.
- Puta que pariu. Olha o tamanho da cabeça desse monstrinho.
- Que monstrinho?
- Calma,minha senhora.
- Primeira asa já saiu.
- Que asa?
- Respira, respira.
- O rabinho.
- O que é isso?
- Respira, respira. Cachorrinho.
- Não, é o satanás mesmo!
- Ahhhhhhhhhh!
- Nasceu.
- Encarnou! Que alguém adote o maldito e essa minha fotosensibilidade por partos!