Patríca Pacífica
- Mãe.
- Patrícia?
- (suspiro de filha única) Sim, mãe.
- Oi minha filha. Você me ligando?
- Saudade, mãe. Muita saudade.
- Onde você tá?
- Muito longe. Num dá pra explicar.
- Então porque me ligou? Num sabe que estou chateada?
- Eu sei, mãe. Me escuta...
- Seu pai e eu já conversamos sobre isso tudo.
- Me escuta...
- Nada que você for falar agora vai mudar nossa opinião.
- Me escuta, mãe!
- E não me venha com "quero dinheiro", "preciso de perdão" ou "dai-me um ombro"!
- Porra mãe! Eu matei um cara!
- Como é?
- Matei um cara...
- Mas...
- Ele não me fez feliz.
- Filha?
- Disse que queria fazer uma coisa terrível...
- O quê?
- Conhecer vocês.
- Mãe.
- Alô?
- Mãe.
- Alô? Ainda tem gente na linha?
- Mãe, é a Patrícia!
- Gente... eu perguntei se tem gente na linha. Num foi qualquer merda não.
- Alô?
- Quem fala?
- Pai, é a Patrícia.
- Oi minha filha.
- Pai, a mamãe tá puta comigo.
- Eu também, minha filha.
- Desculpa, pai.
- Porque?
- Porque eu matei um cara.
- Ué. Pede desculpa pra ele, a gente é que num tem nada haver.
- Alô?
- Quem fala?
- É a Patrícia. Quem fala?
- É o Genário. Com quem quer falar?
- Ué, com meus pais. Chama minha mãe.
- Desculpe, minha filha... é engano.
- Pai?
- Após o sinal deixe seu recado... piiii.
- Mãe? Aqui é a Patrícia. Já fazem alguns meses e vocês não entraram em contato comigo. Estou voltando. Na verdade, estou gravando essa mensagem bem em frente da secretária eletrônica, ouvindo minha própria voz. Acho que vocês foram ao bingo. Bem, peguei minhas coisas e agora estou deixando a família. Reparei nas fotos no criado-mudo com meu rosto recortado. Muito bonito. Bem, a secretária vai contando recados e eu falando besteira. Deixei um vinho no sofá. Não tá envenenado, podem beber. Peguei as reservas do papai, quer dizer, do Seu Ronaldo, é... roubei mesmo. Se quiser, me denunciem. Bem, fico por aqui. A polícia tá atrás de mim. Beijos, quer dizer, um aceno de longe. (suspiro)
- Mãe?
- Órfã?
- Droga.