tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

quinta-feira, dezembro 15

Casal

- Onde você tava?
- Vim da livraria.
- Encontrou algo legal?
- Humrum.
- Comprou algum... que é isso na sacola?
- Comprei. Comprei Primo Levi.
- É legal?
- Ainda num li.
- Eu acho interessantíssimo nome de autor. Primo Levi, Lya Luft e Deepak Chopra. Acho que eles devem utilizar de algum tipo de numerologia. Não acha?
- Num sei. Tem alguns casos patéticos como Paulo Coelho e qualquer autor de Auto-Ajuda.
- É. Talvez seja.
- Vi um livro que era sua cara.
- Qual?
- As viagens de Théo.
- (risos) Adorei. É bem minha cara mesmo.
- E então? Vamos tomar um café?
- Montmartre?
- Montmartre.

- Eu tava pensando sobre as coisas existirem mesmo quando estamos de olhos fechados.
- Hum.
- Eu num sei. Quando fechamos os olhos ainda podemos sentir as coisas, então elas ainda estão lá.
- Mas será que não sentimos, exatamente por ter visto antes?
- Ahm?
- Só problematizando.
- Não, não. Os cegos. Nunca viram nada, mas sentem tudo.
- É verdade.
- Eu às vezes fecho meu olho bem rápido e abro em seguida pra sentir se as coisas mudam um pouco de lugar. E uma vez aconteceu.
- O quê?
- Um jarro. Ele era violeta. Uma cor forte e inconfundível. Mas quando abri os olhos ele estava azulado, quase cor do céu. Na hora, ainda fechei novamente os olhos. Mas nada mudou.
- Que estranho. Você tem esse jarro ainda.
- Claro! O jarro que fica na sala, próximo do som. Lembra?
- Sim claro. Mas ele sempre foi azul.
- Não. Nem sempre.
- Então tenta mudar minha cor.
- Ahm?
- Quero ser azul.
- Você?
- Humrum.
- (risos) Você não pode ser azul.
- Porque não?
- Ora. Num sei. Num pode.
- Me transforma. Seja criança.
- Ahm?
- ...
- Certo.
- ...
- ...
(momento sagrado)
- Tou de que cor?
- Vermelho. (risos)
- (risos) Eu quero azul!
- Desculpa. É que pisquei errado. Agora vai.
- ...
- Pronto. Azulzinha.
- Minha nossa. Vou me ver no espelho.
- Vá.

- Hoje, lá no Montmartre, percebi uma coisa.
- O quê?
- Na verdade, você falou.
- O que foi?
- Seja criança.
- (risos)
- Como temos um horizonte limitado. A gente cresce e vai se limitando a um modelinho de adulto perfeito.
- E violeta.