A Menina e seu amor
Desde um tempo atrás, quando uma estrela do céu caiu no meu colo, comecei a achar que existe muito mais coisa por trás das aparências. A estrela era fria, morta, calada. Nada do que parecia lá em cima. Eu fiquei pensando nessa história de pedra morta, planta viva, nuvem morta, inseto vivo, ponte morta, rio vivo. Essa relação do que anda vivo e do que vive morto. Pedra num tem alma, mas planta tem. Que confuso. Num entendo. Vieram me falar que o que não se mexe, tá morto. Então num entendo. Num entendo mesmo.
Meu grande amor não se mexe. Meu grande amor não tem alma. Meu grande amor não tem vida. Mas é o único que me entende. Ontem dormir sobre meu amor. Com a cabeça nos seus braços. Ele é lindo. Me deu flores pela manhã. E chamou um amigo, um pintassilgo lindo, para tocar uma música para mim. Abaixo dele, um rio molhava pedras esverdeadas por lodo. Meu grande amor. Meu grande amor perfeito. Ele sim, me entende. Sabe do que preciso e eu sei o que ele quer. Só um pouco de atenção e flores. Amor incondicional, aprendi na novela. Só não entendo essa história de vivo ou morto. Pra mim, são coisas tão próximas que se confundem. Meu amor, minha ponte. Minha ponte tão linda, tão redonda. Tão certinha no seu lugar. Vi que escreveram nela e chorei. Amo aquela ponte. Quando crescer, quero também ser uma ponte. Uma ponte como meu amor. Sem alma.
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