tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

segunda-feira, novembro 29


Os pássaros não pousam, meu bem, os pássaros não posam.

PÁSSAROS DE TOULOUSSE
O PESO DE NOSSAS PREOCUPAÇÕES

Em uma casa de campo, em meio a neblina, o frio e canecas de café.

- Toulousse... Toulousse...
- Oi amor.
- Toulousse, querido. Acho que acabou o leite.
- O seu???
- Não, amor. Da geladeira.
- Ah. Eu compro.
- Não vá agora. Faz muito frio e a neblina tá densa.
- Tudo bem. Onde estão as crianças?
- Tirando uma soneca.
- Ponha o casaco. Tou aqui na varanda.

- Toma seu café.
- Obrigado.
- Essa neblina me traz nostalgia de quando era pequena.
- Seu tio morava aqui?
- Era mais ou menos. Ele não era tio. Era primo do papai.
- A Esmeralda me contou sobre os pássaros.
- Ah foi?
- Humrum. Interessante.
- É incrível, não?
- Priimeiro a idéia dela achar que os pássaros voam pois não tem preocupações. Por isso andam tão leves que voam. Depois a idéia de que eles são intocáveis, mesmo sem preocupações. "Os pássaros são os bichinhos mais esquisitos que já vi. E ao mesmo tempo são os mais interessantes.", ela disse.
- Esmeralda, linda.
- Depois o Michel me veio perguntar porque não voamos.
- Somos feitos de preocupações.
- "Nem tudo são pássaros."

quarta-feira, novembro 24

Complenitudiando a companhia da compania

Seja lá o que for isso. Eu sei, eu errei. Antes até cheguei a ver aranhas fazendo suas teias, mas contratei uma boa compania de limpeza. Acredito que a poeira, de certa forma, protege o que tem por baixa (ou corrói, sei lá).

Bergman me socorra!

- Que filme é esse?
- Morangos Silvestres.
- Pornô?
- Só se for essa sua cabeça doentia!
- De quem?
- A sua, Alfredo! Deixa de ser burro.
- De quem é esse filme?
- Ingmar Bergman.
- E daí?
- "E daí" o quê, Alfredo?
- E daí? Qual a história?
- Ah, vai lê a sinopse na capa.
- Num tem capa, tem um papel xerocado de locadora.
- É sobre um homem.
- Só isso?
- Ah! Num sei, Alfredo! Ainda num assisti!
- Tá.
- ...
- ...
- ...
- Quem é esse?
- Sei lá. É algum amigo do cara ali.
- Hum.
- ...
- Amor...
- Que é, meu santo Deus? Que é?
- Você sabe o que eu trouxe pra você?
- Não.
- Morangos.
- Ah foi?
- Foi. Você adora morangos.
- É.
- Num vai me dá um sorriso?
- Eu ainda não vi os morangos.
- Estão ali na cozinha. Quer que eu pegue?
- Macacos me mordam, Alfredo! Deixa eu assistir o filme!
- Tudo bem. Vou pra cozinha, comer seus morangos.
- ...
- ...
- ...
- Hmmm. Que delícia de morango.
- Cala a boca, Alfredo.
- Vem comer, vem (desgraçada).
- ...
- Olha aqui.
- Que é isso?
- Morangos silvestres.
- Endoidou?
- Só se for essa sua cabecinha doentia!
- Como é?
- Claro que come! Vai comer tudinho!
- Você tá louco?
- Não. Tou relendo o roteiro. Mudando suas falas e te destruindo por baixo, amorzinho.
- Como é que é?
- Agora é a hora do caixão.
- Alfredo, solta essa faca!
- Que Bergman te socorra, Socorro!

quarta-feira, novembro 3

Concubina Escarlatina Estupidez

- Mãe...
- Oi, filho.
- Tou com saudade.
- De quem, meu anjo?
- De pessoa não. Da possibilidade de ver um pássaro voar.
- ...
- Mãe...
- Oi, anjinho.
- Os cegos vão pro céu?
- ...

- Então resolvi pensar, aliás, filosofar. A filosofia sobre as coisas boas se tornou, de certa forma, enfadonha. Então fui pensar nas coisas tristes da vida.
- Professor...
- Não me interrompa.
- Desculpe.
- Não me interrompa, filho da mãe.
- ...
- Pensei então sobre a queda das folhas das árvores. Pensei sobre a morte de insetos, pensei nas lágrimas honradas dos kamikazes, pensei na minha própria insanidade. Pensei em vocês, infelizes. Pensei muito.
- Professor...
- Cale a boca, estou falando.
- ...
- Pensei então sobre o sentindo da partida. Sobre o sentido da chegada. Pensei sobre os pequenos passos que significam grandes atos. E lembrei de algo. Lembrei que minha mãe não me fazia lanches para o recreio, muito menos beijava minha testa na saída de casa. Lembrei que infeliz era a tradução dos meus olhos diante do quadro negro. E sabem o que vejo hoje nos olhos de vocês?
- O quê? (em coro)
- Meu reflexo.

- Olá.
- Olá.
- Você tá bem?
- Tou ótima.
- Que foi que aconteceu? Que sorriso é esse? Seus olhos brilham!
- Eles não brilham. Apenas refletem o brilho intenso nas escamas do meu peixinho.