Concubina Escarlatina Estupidez
- Mãe...
- Oi, filho.
- Tou com saudade.
- De quem, meu anjo?
- De pessoa não. Da possibilidade de ver um pássaro voar.
- ...
- Mãe...
- Oi, anjinho.
- Os cegos vão pro céu?
- ...
- Então resolvi pensar, aliás, filosofar. A filosofia sobre as coisas boas se tornou, de certa forma, enfadonha. Então fui pensar nas coisas tristes da vida.
- Professor...
- Não me interrompa.
- Desculpe.
- Não me interrompa, filho da mãe.
- ...
- Pensei então sobre a queda das folhas das árvores. Pensei sobre a morte de insetos, pensei nas lágrimas honradas dos kamikazes, pensei na minha própria insanidade. Pensei em vocês, infelizes. Pensei muito.
- Professor...
- Cale a boca, estou falando.
- ...
- Pensei então sobre o sentindo da partida. Sobre o sentido da chegada. Pensei sobre os pequenos passos que significam grandes atos. E lembrei de algo. Lembrei que minha mãe não me fazia lanches para o recreio, muito menos beijava minha testa na saída de casa. Lembrei que infeliz era a tradução dos meus olhos diante do quadro negro. E sabem o que vejo hoje nos olhos de vocês?
- O quê? (em coro)
- Meu reflexo.
- Olá.
- Olá.
- Você tá bem?
- Tou ótima.
- Que foi que aconteceu? Que sorriso é esse? Seus olhos brilham!
- Eles não brilham. Apenas refletem o brilho intenso nas escamas do meu peixinho.
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