Venho ca, postar algumas palavras. Preciso lavar essa sala antiga, talvez remover os sofas, trocando assim a melhoria das visitas pela grande liberdade do espaco e o conforto de quem chega. Sentar no chao eh mais humano. Vou lavar os pratos, os quais ando fazendo aos pouquinhos (mas eh que preciso lavar tudo de uma vez?). Armar as redes e tirar toda aquela poeira do piano. Minha nossa, faz tempo que nao piso aqui. Tava viajando. Em outro pais.
Vinagrette
- Entao, o Carlos me chamou pra aquele churrasco.
- Sei.
- Ai eu falo: "Pow Carlos, tu eh um pilantrinha mesmo, hein? Como tu me chama dois dias antes?"
- Hum.
- Ai ele olha pra mim com uma cara de palerma e fala: "Ah Adalberto, tu num precisa ir nao, cara."
- Hum.
- Ai, porra, eu virei jah indignado: "Entao porque congas d'agua tu me convidou, oh babaca!"
- ...
- Ai ele ficou puto tambem, neh? "Babaca eh a sua mae, seu filho da puta"
- ...
- "Ah, eh? Pois saiba que es adotado, infeliz! Nem mae babaca tu tens!"
- ...
- Ai, ele se calou. Eu me calei tambem. Falei merda.
- ...
- Passa a Vinagrette, por favor.
- ...
- Obrigado.
- Hum.
- ...
- ...
- Tah gostoso.
- ...
- Porra, vou ligar pro Adalberto. O miseravel nem mae tem.
Hugonaldo
Existiam 34 horas pro Hugonaldo. Ele se virava por ai. Arranjava tudo que eh freelance. Vendia relogio, comprava umas cervas pros meninos ricos, traficava cigarros bolivianos e ateh se envolveu com rock, mas aquela galera era muito "sinistra", como ele mesmo rotulava. Hugonaldo era o tipo do cara camisa listrada e correntinha de ouro. O mocassim era tao velho que ele arrumou numa feira na Lapa na decada de 70, brinca? Hugonaldo lustrava moveis em antiquario, carregava sacolas pras velhinhas e um dia ateh alimentou umas orcas selvagens num show aquatico de gringos do norte, coisa que ele disse que era super "izi". Esse tal malandro viveu em bares como o Milindrinha, o antigo Jose Ronaldo Bar, o base do samba Girassol e muitos botecos de fim de noite da antiga varzea, mas que ele dominava na sorrateira ginga do malandro de palito de dente. Hugonaldo era aquele cara que cospia e assobiava uma cancao pra queda da saliva no chao. Era bonito, fazia bem feito. Morreu de morte matada, numa noite de carnaval, numa esquina esquisita da qual sempre evitava a curva, por um outro malandro regional, segurando uma garrafa de pisco e mascando tabaco argentino que ele roubou de um marinheiro velho. Foi feliz, nao comeu ninguem, mas foi feliz. Viva Hugonaldo!