Soledade não quer meus vasos
Como satisfazer uma mulher e um homem. Pra mim, só falta pintar a parede de vermelho ali.
Soledade
Soledade era a preguiça em pessoa. Morava nos fios de baba do travesseiro. Nas remelas dos olhos. Em boa parte das sujeiras nos banheiros. Conseguia acompanhar cada passo da digestão de uma mosca. Desde a ingestão ao regorgitamento. A paciência era apenas ressaltada pela sua preguiça de viver. Até a vida desistiu dela.
Um dia conheceu Carlitos. Um assaltante latino. De tanta preguiça de reagir aquela cena toda, foi levada como o próprio objeto de furto. Era o vaso mais valioso de Carlitos, o que nenhuma flor poderia ocupar. Viveu durante anos naquele ambiente, mais decorando do que se utilizando daquele ambiente. Até que Carlitos caiu na tentação. Acabou por levar um outro vaso, esse até mais moderno, com outro comportamento. Não durou dois dias. O vaso foi encontrado aberto, a machadadas. As mãos de Soledade sangravam. Carlitos viu o amor pela primeira vez e nunca mais esqueceu aquele rosto. Seus olhos caídos, sua boca entreaberta e um corpo de cinquenta e seis quilos dividido ao meio na sala.
Carlitos morreu três anos depois de um assaltado mal calculado. Os dias de vaso acabaram para Soledade, que acabou trabalhando num velho cabaré da cidade, cujo nome trazia as iniciais de Eleanor Rigby. "All the lonely people, where do they all come from?" De vasos.
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