Talvez o que não tenha caído do saco
Isso não é ficção.
Admito que há um certo tempo, e isso chega a talvez dois meses, estou com uma grande sensação que preciso escrever algo muito forte. Não sei se forte na comédia, ou no drama ou até no romance. Mas não consigo escrever. Não sai. Até agora, não. Mas vai sair. Sempre acho que será o texto do século, mas pode se transformar num emaranhado de letras absortas sem conjunto algum. Talvez seja isso agora. Talvez você esteja lendo o começo do grande texto do século. Pra mim, ele num faz sentido algum, mas em você pode tá tirando uma lágrima. Ou um sorriso agora. Talvez um olho arregalado? A reação é sua.
Acabei de escrever um e-mail para a âncora de um telejornal conhecido. Elogiei seus anéis e os movimentos delicados que ela faz ao dar notícias tão fortes. Nem tão fortes como o texto do século, mas ainda assim, fazem parte da realidade e são muito fortes. Falei das duas comunicações que ele pratica na apresentação de um telejornal. Lembrei ainda de quando a notícia do chefe de tudo morreu, e ela, bravamente, se perdia nos próprios pensamentos, desafiando um telepronter e duas malditas câmeras gélidas, sem sentimento algum. Até me perguntei se devia comentar dos câmeras, se eles também não se emocionavam. Mas que apanha mesmo é quem tá sendo exibido. Durante três segundos, ela, a apresentadora, ficou parada, ausente de qualquer notícia, olhando para uma câmera que interligava uns trezentos mil telespectadores, seus olhos ensopados, sua boca entreaberta, era o completo sentimento da tristeza, sem a máscara da imparcialidade. E o que fizeram? Cortaram para o comercial. Casa de ferreiro, espeto de pau.
Imagina só quando você sai de uma cidade, onde tinha trabalho, mulher, diversão e dinheiro, acontece o maior redemoinho que poderia haver na região. Nem mesmo a oliveira que seu bisavô plantou na pracinha de baixo, ficou em pé. Você consegue imaginar todos os seus amigos sobrevoando a cidade em meio a poeira, carros, pedaços da evolução tecnológica e meio mundo de árvores, tijolos, vasos sanitários e muito, mas muito dinheiro? Acho que sim. Até o pinball do zero-zero-sete se perde por aí. E você adorava tanto. Seria essa, a parte negra do texto do século? Seria essa onde imaginamos aquela menina linda de tranças em jogada em algum canto da cidade destruída? Não. Essa é a parte que cada um imagina o que mais amava, se encontrando com uma latrina podre no meio do redemoinho, triste e infelizmente. (parte podre, trabalhar um pouco mais as lágrimas e tentar dar um close nos olhos do[a] protagonista)
Eu tava lembrando que ficar falando muito do que deveria ser, é um baita preenchimento para o que você não é. É como aquela pergunta: "o(seu) co(r)po tá metade cheio ou metade vazio?". O que você responderia? Nice eyes, pretty fly.
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