Pluralize seus sentimentos
As Queridas das Cinco
Ela tomou um gole do chá e soltou uma escancarada. "Meu marido é um canalha! Ele diz que trabalha oito horas mas vi na carteira de trabalho que ele só paga quatro!". O comentário geral foi um "noooossa". Mas a Margareth num parou por aí: "E meu filho! A grande filho de uma égua! Porque é isso mesmo que eu devo ser! Ele trouxe uma bandida pra minha casa! Deve ter comido tudo dela e cospiu a menina fora! Agora ela fica ligando lá pra casa, feito uma rapariguinha, e eu tento que dar desculpa pelo pirralho! Ah eu mato!". Nessa hora, uma das queridas das cinco horas se retirou da mesa. A rapariguinha era sua filha. Margareth nunca fala uma ou duas, sempre três, no mínimo: "Ai venho todo santo dia pra essa joça das queridas das cinco horas, me sento sempre nessa mesma cadeira que tá com um pé menor e fico me balançando involuntariamente, derramando chá no meu vestido que aquele canalha me comprou pra tentar ofuscar a putinha que ele anda comendo. Ai me sento aqui, converso com vocês e o que mais? O que vocês me adicionam? O que vocês me contam? Há três meses que eu falo dos meus problemas e você, Olivia, vem me contar que o Fernando da novela tá apaixonado por Gertrudes, filha do vilão? Ah vão se fuder! Eu sou velha mas mantenho o respeito! Prefiro ficar com aquele gordo de meia tijela que só faz comentário idiota sobre os filmes do que me molhar toda de chá e contar feito um pato, todos os meus problemas!". Nessa hora, Margareth se levantou e saiu. As velhinhas se olharam e todas repararam no sorriso safado de Olívia. Sem querer, a próprio Olívia solta uma: "Eu me considero uma empreendedora de maridos! Que problema se vê nisso?". E as outras velhinhas se afastaram.
Margareth passou a frenquentar outro grupinho. Descontraído, rolavam discussões sobre arte e movimentos revolucionários. Foi o suficiente para ela mudar uma parte da sua vida. A outra, só com a separação mesmo.
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