tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

segunda-feira, fevereiro 14

Deixa de papo furado, eu quero um saco vazio pra ponderar tanta besteira

"Eu quero ver você dançar, em cima da faca molhada de sangue, enfiada no meu coração"
- Mombojó.

Frederica, não me pergunte da onde tirei esse nome, era daquelas meninas doces, de olhar lânguido e pés seguros. Ela tinha uma mania de coçar os suvacos, mas não fazia isso em público. Gostava mesmo era de dar nomes as pessoas nas fotos. Ia para o centro da cidade atrás dos lambe-lambes tradicionais para dar nomes a todo e qualquer que seja o indíviduo fotografado. Todo mundo achava que ela conhecia mesmo, fazia uma cara de espanto quando dizia o nome, como reconhecesse a pessoa. Até as pessoas que ainda estava por tirar a foto ganhavam seus nomes e ficavam sem entender nada. Frederica gostava de mostrar que conhecia as pessoas. Mas não conhecia ninguém.

Mas um dia as coisas não aconteceram como de costume. Ela viu aquela carinha calva na foto, usando uma camisa de botão com alguma textura de peixinhos e falou logo: "Olha o Fernando!". Mas em vez do silêncio da foto, ouviu uma voz: "E você? Quem é?". Ela parou. O mundo inteiro parou pra ela ali. Ela observou ao redor e não havia uma alma viva próxima dela. Ela apenas observou a foto e perguntou: "Foi você que falou?". De repente, como num passe de mágica, a foto se mexeu. O calvo arregalou os olhos e lhe balançou a cabeça: "Foi sim, minha linda. Como se chama?". Ela quase desmaia. Piscou os olhos mil vezes. Se beslicou e tudo mais. Mas o tempo tinha parado. Ela tinha um século ali, em disparada. "Sou Frederica. Como...", foi enterrompida a menina de pés seguros pelo calvo: "Não me pergunte. Você me deu um nome, sou grato. Como posso agradecer? Me leve para algum lugar". E Frederica arrancou a foto. Rasgou ali mesmo. "Mas que assanhado! Só porque me assusto, já acha que é abertura pra ser meu amigo. Idiota". E continuou sua vida estranha. Ela dando nome aos bois e os bois caladinhos, sem ousar se intrometer com aquele ser surreal.

Frederica Pesto de Oliveira, dezoito do seis de mil novecentos e setenta e sete. Geminiana.