tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

sexta-feira, outubro 10

Entrando na vertente cassiana...

Jogava Pedra na Lua e Caçava Passarinhos com Cuspe ou a história de Margarida, a menina ninfomaníaca que brincava de enfermeira.

Andava pelas ruas como se fosse um jardim. Passeava pelas sombras, cobria os tecidos com seu olhar penetrante. Com os animais da rua, tinha relações íntimas de desagrado social. Enviava beijos e e-mails para todos os gatinhos que a aguardavam no muro da rua quinze. Seu nome nasceu da rua, dos cílios, dos tímpanos, do estribo, da margarina, na floricultura: seu nome era Margarida. Tinha três bonecas: Suzy, a prostituta; Goreth, a dona de um bordel falido; e Deisy, a camponesa. Fubenta, sem olhos e sempre com cera no ouvido, Deisy estava jogada no canto como lixo na rua. Nem que o mundo acabasse, ela revelaria o que havia por trás de seus olhos. Pensamentos vis, vulgares e ímpios. Seus trinta e dois dentes acompanhavam em igualdade a sua idade, mas não o seu cérebro. Cerca de 29 Lucky Strikes eram fumados de manhã, alguns no almoço, e todo um resto de bloco de carteiras até o fim do dia. Fã do Corujão desde os quatro anos de idade. Enrolava o dedo na linha de pesca para senti-lá cortando sua pele cada vez que o peixe lhe puxava o anzol. Seus lábios gostavam de se lambuzar de mel e depois correr loucamente ao ar livre, sentindo o contraste do vento naqueles lábios grossos e meio enrugados. Prédios altos, igrejas velhas, relógios parados, carros antigos, placas verdes, profissões estranhas, aparelhos ondontológicos, capacetes de motoqueiros, casaco de couro, latas de chá gelado, picolés amolecidos, manteiga de cacau, cílios postiços, gatos epléticos, gibis do homem-aranha... tudo lhe fascinava. Mas o que mais gostava era de sexo, o que nunca fez e nunca fará. Sabia de tudo, todas as posições, todos os movimentos, analizava filmes pornôs e criticava-os ao dono da locadora. Odiava se masturbar e não suportava cheiro de homem. Odiava qualquer corpo feminino a menos de um metro de distância. Seu sexo era no pensamento, nos sonhos. Seu sexo era com personagens, todos idealizados apenas por ela, imaginados apenas por ela. Eles não existiam e por isso eram mais excitantes. Margarida era filha única órfã desde o dia do nascimento. Margarida era criança até os 32 dentes dela acompanharem em igualdade a sua idade. Margarida era especial até uma pessoa perceber que ela existia e assim acabar com toda sua história. Margarida era esquizofrênica, psicótica, insana, débil mental, autista, catalépsica, aidética, viciada em drogas, mas era virgem. E normal até demais para nós, que nunca entendemos e nem vamos entender o porque dela ser assim. A explicação é algo tão complexo que talvez fosse impossível narrar o prefácio da mesma, já que ele seria toda a vida de trás pra frente em paradoxo com os apêndices.

Margarida existia em sua própria persistência em existir pra si mesmo. E isso é o que há.