Todas as conversas do mundo
Mais pé. Pois a gente começa daí.
Não tinha solução. Já tava psicótico mesmo. Ele tinha aquela mania desde os oito. Ou era seis? Um certo aniversário esquecido, acarretou na compra de um controle universal. A marca era MaxWayne, eu acho. E realmente, era universal. Até cafeteira ele ligava, mudava modos de aquecimento e poderia até pedir um cappuccino com aquele maldito controle universal. Era incrível. Até que um dia levou, escondido, seu controle universal para o centro da cidade. Foi o caos. Ah infelizes vendedores de eletrodomésticos! Ele sabia, não sei como, que o centro da cidade estava utilizando um novo serviço de tv paga, e sabia dos "maus" canais que existiam naquele serviço. Não deu outra, em quinze minutos, gemidos, "oh yes, oh no", "oh my god" e outras gritarias pornográficas eram escutadas por todo o centro. E ele não parava. Ligava sons, fazia músicas. Colocou toda ala de ar-condicionados para funcionar no máximo. Pode parecer mentira, mas parece que algumas ruas da cidade chegaram a fazer frio, e olha que estamos no auge do verão. Ele adorava aquilo. Mexia em todos os mecanismos eletrônicos com seu controle universal. Até que descobriram. Multidões correndo atrás do moleque, que corria atrás de uma salvação. Sorria feito guri realizado em sua proeza futurista. Até que deixou cair seu controle universal. E quando a espada do samurai cai de suas mãos, metade de sua alma é dilacerada. Ele não podia existir sem aquele controle. A multidão parou. Ele parou. Todos os olhos no controle. A multidão sabia que tudo acabaria se pegassem o controle. Ele, nada sabia. E então ele correu. Mais de duas mil pessoas correram. E no meio da confusão, podia-se ouvir a mudança de canais e a revolta dos aparelhos eletrônicos cheios de "fuuuu", "oh yes", "and today, USA got a bomb", "wapabulumba", "tcheremremrem", "tu-tu-tu-tu-tu", "oh fuck me", "woman, is the...", "emitivi", "tec-tec-tec". E as pessoas, bem, todas as pessoas estavam entre onomatopéias de pontapés, socos e pancadaria em geral. Pois o homem tá pra briga, assim como a Cicciolina está para a política. É tudo sacanagem.
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