tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

quinta-feira, fevereiro 12

De pés descalços

"O que você quer que eu faça?", perguntou a Ana. Ela, pensativa como sempre, apenas olhou pra ele e sorriu delicadamente. Para ele, ela não escutou nada e apenas sorriu para confirma a informação. Mas que informação? Foi feita uma pergunta! Uma pergunta não afirma nada! "Vai me responder?", insistiu. Ela apenas voltou para onde seus olhos descansavam antes e começou a falar: "Nunca mais escutei o que você falou. Nunca mais quis mudar da forma como você disse. Nunca mais fui eu e apenas eu entederia isso. Nunca mais fiz minhas necessidades serem apenas minhas. Nunca mais comi semente de girassol. Papai que se bata no caixão agora, mas eu adoro semente de girassol. Nunca mais pintei com lápis Crayon. Nunca mais brinquei de roda. Nunca mais corri livre pelos livros. E sei que nunca mais correrei. Sei que nunca mais farei nada que não fiz. Sei que nunca mais vou sentir as boas sensações da vida. Não se assuste em eu falar meio metro de palavras depois de quase dois anos sem pronunciar uma dor. Não se assuste se meus olhos agora se fecharem e você escutar meu espírito chamando o seu. Não se assuste se te disser que nunca te amei ou qualquer coisa parecida, porque sempre menti. Sempre menti pra todo mundo. Mamãe não sabe que fui eu quem ligou pra ela enganando sobre papai. Nina não sabe que fui eu que pus pimenta. Fernanda nunca vai saber quem estava correndo depois da janela quebrada. O mundo é feito disso Castor. E você, nem ninguém vai poder mudar. Eu minto e gosto disso. Agora me deixe só. Quero entrar nesse lugar e satisfazer seus desejos. Me confinar em um quarto quente com um velho safafo e não aprender nada demais. Sou uma prostituta da solidão. Vivi assim e assim vou morrer? Perdoe-me. Mas hoje prefiro pensar que não é mais meu filho e sim um lenhador que tenta me arrancar pela metade. Estou triste e no momento te odeio mais que qualquer pessoa no mundo. Não me visite, nem tente se aproximar. Se tentar chorar, espero que o caminho que essa falsa lágrima percorrer nasçam rosas negras e te lembrem que nunca te abandonei, em setenta e oito anos de vida, em nenhum momento. Você já foi inoportuno, insistente, manhoso, chato e etc. Mas nunca te abandonei. Se queres fazer isso agora, então vira teu rosto, pois meu espírito não respeita mais o teu. Incrível você". E ela se virou e passou dos portões negro daquele asilo. Castor entrou no seu carro com os olhos enxarcados de lágrimas. Apenas dirigiu. E ela ficou pensando nos lápis Crayon de sua infância.


A vida é feita disso.


E a alma também.


beijos.