tobor e o amanhecer antecipado em seu dia.

vida simples, pensamento elevado.

domingo, junho 10

Cabelo

Esse texto vem me perseguindo a cabeca ha um certo tempo. Criei ele no chuveiro e venho lembrando partes em partes toda a semana. Sentei agora pra finalmente escreve-lo.

Cabelo

Eu sempre me senti um pouco deslocado ao terminar namoros. Nao pelo vazio que a gente sente e que ninguem acredita que existe. Eh o lance de tentar mostrar que a garrafa tah cheia aumentando o rotulo e escurecendo o vidro. Mas o vazio existe e tah lah. Mas me sinto deslocado exatamente quando revejo a pessoa depois de um tempo. E digo de regra, eh sempre igual. Me perdia tentando definir personalidades pelos olhos e suas curvas, pelas maos e seu tamanhos, ateh pelos sorrisos e seus impactos. Mas nao estah lah, estah nos cabelos. Tudo que existe na vida das meninas estah nos cabelos. Do corte para as cores, das curvas para o estilo, do volume para os efeitos. Todos os desejos, toda a melancolia, as tristezas de um fim de tarde, as vontades absurdas, as deslumbrantes horas de delicia, a felicidade e por fim, elas mesmas. Dos cabelos curtos e sempre presos, dos alongados, cacheados, flat-style, playmobil, blackpower, na altura do ombro, batendo na bunda, os meios das costas, os raspados (vale incluir aqui um outro texto sobre a eliminacao do cabelo), os de cachinhos, os meio tortos, afinados, duas pontas, os loiros claros aos morenos obscuros, os de chocolate, aquele tais aos ventos, os de lencinho portugues, os acordados, esses tais nivelados, dos rebeldes aos curtidos, dos presinho na caneta bic, dos sempre molhados, dos cheirosos, dos aquecidos e entre tantos outros que me faltam uma definicao. Estah lah, cada impeto, cada vontade, cada virtude. E me sinto deslocado, pois sempre elas cortam os cabelos quando terminam um namoro. Talvez porque ali elas perderam alguns sonhos, algumas vontades, ou pelo contrario, sentem que precisam mostrar que perderam alguns sonhos, algumas vontades. E na tentativa de ficarem mais bonitas que jah eram (o que conseguem facilmente), elas fazem a gente se arrepender, nem que seja por segundos, do que acabamos de terminar. Cada palavra se volta na cabeca, tudo se perde no campo da razao. E voce fica ali, perdido, entre dois olhos e mil fios de definicao complexamente estruturados que falam muito mais que qualquer mao, qualquer imagem, qualquer palavra, qualquer olhar, qualquer sorriso. "Bonito seu cabelo.", voce fala meio gasguito. Engole seco e vai viver a sua vida que ateh parece sem graca.

1 Comments:

At 6:54 PM, Blogger Rilma Medeiros said...

Fantástico! hahaha
Ao ler o texto me peguei lembrando das vezes que ao término de um anmoro olhava pro espelho e falava pra minha mãe: "mãe, acha que eu deveria cortar o cabelo? tô com vontade de mudar, tô achando ele feio"...A vontade de mudar que a Clarice tanto fala, mudar de cara, mudar de ação, mudar aqui dentro, sei lá...
Você não existe jãozinho, magnífico teu texto!

"Debaixo dos caracóis dos seus cabelos,um soluço e a vontade de ficar mais um instante..."

Beijos, aos montes! Adoro tu.

 

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