Desculpa o texto imenso... esse é velhinho. Acho que eu fazia o segundo ano, ou seja, tinha 16 anos. Já trabalhava e odiava acordar cedo. O texto é corrido assim mesmo. So... have fun!
Entre Lerdos e Desinteressados
Sempre no mesmo horário, às vezes uns segundos a menos, acordo. Meus olhos tentam se levantar mais existem um fardo chamado cansaço pulando em cima deles. A boca se perde em bocejos e monossílabos incontroláveis que ainda tentam se lembrar de um movimento descansado e relaxado em cima do travesseiro. Meus dedos se tocam em movimentos retardados e lerdos e se levantam com uma força morta e extremamente fraca. Eles tocam a borda da cama, a qual me guardou durante toda a noite, em um sono inesquecível. Finalmente, mas não felizmente, me levanto e me dirijo ao banheiro. Com um andar em passos largos e sem vontade, sou observado por um ser. Esse mesmo ser me criou dentro de seu ventre e só por sua causa, eu estou ali quase que acordado. Minha mão vacila e acaba batendo fracamente na parede inerte. Meus olhos ainda se esforçam para levantar, eles quicam em uma plataforma de cílios ainda sujos. Esses mesmo olhos choraram de ódio na noite anterior e por isso acho que tive um mal sonho. Se bem que o que tive não era bem um sonho. Ainda em direção ao banheiro, sou observado com cautela pelo ser que criou e educou. Lhe passo um olhar desaprovador, uma insinuação de que tudo aquilo não devia estar acontecendo. Ela me olha e me dá um sorriso. Esse sorriso se parece mais como um revitalizante do que um apoio físico do cansaço. Eu passo pelas portas e por final, entro no banheiro. Aquela luz amarelada me bate criando pequenas bolas de luz no meu olho. A toalha sempre está lá. Meus olhos finalmente se levantam e eu consigo ver uma criatura com cabelos desorganizados e uma face de uma comida rejeitada e jogada fora pelo seu gosto amargo. Seus fios do cabelo brigam por um local confortável, mas acabam um subindo no outro. Meus olhos se direcionam para a porta, a qual é fechada pela minha mão ainda fraca e sem força. A trava da porta é ativada. Meus dedos voam para a parte superior do meu calção, só não digo pijama por ser uma roupa comum de ser usada enquanto permaneço em casa. Ele desce e junto a minha pequena e branca cueca vai junto. Meus dedos deslizam sobre a minha pele e encontram o chão duro e frio. Minhas pernas parecem grandes colunas pesadas que se esforçam para poderem se levantar. Na minha mente vem uma imagem de uma garota, a qual eu devo toda a felicidade que me resta. Meus olhos piscam e vejo novamente aquela criatura raquítica que se move em direção ao chuveiro. Passo pelas portas de vidro e finalmente encontro o meu despertador, o chuveiro. Ao ligar o chuveiro, uma água quente desce pelos pequenos buracos e encostam no meu pé, estrategicamente posicionado para sentir a temperatura perfeita. Instantaneamente eu mergulho naquela queda "hidro-despertadora". O frio que sentira antes, agora se dissipa em vapor. Eu me movimento de um lado para o outro até me molhar todo com aquela água aquecida. Segundos depois, me encosto no mais antigo apoio para o homem, a parede. Lá, eu deixo meu ombro direito se deitar em seus tijolos cinzentos e coloco meu pé direito em cima do esquerdo. Meus braços se cruzam e a água que cai faz um barulho relaxante. Meus olhos não suportam aquele conforto meio que estranho e em pé, eu durmo. Dormir seria algo muito forte, eu diria descanso. Alguns minutos após, eu acordo com o mesmo barulho que me fez dormir. Quando o barulho se torna repetitivo, ele se torna abusado e ensurdecedor. Me acordo e me lembro que existem pontos importantes que devo chegar para poder finalmente descansar. Me jogo para frente, mesmo com a força fraca. Minhas mãos vão em direção aos condimentos que permitem que meu cabelo permaneça como ele deve ficar. Mesmo achando que eles não melhoram nada, passo os condimentos sem vontade e finalmente chego à última parte, o sabonete. Com esse, eu limpo todas as impurezas que adquiri durante meu sono nada relaxante. Depois de fechar o chuveiro, abro a porta de vidro e pego minha toalha. Ela se lança em um ato insano de flutuação, se jogando em mim como um vento. Eu me seco, ou pelo menos parcialmente. Me dirijo à pia e me penteio. Agora, infelizmente não se pode ver aquela criatura, pois o vapor dominou o espelho como vermes a um corpo morto. Eu abro a porta e vou em direção ao meu quarto. O dia já se passou e eu me encontro na parada de ônibus, são cerca de quatro e cinqüenta e sete da tarde. Observo o ônibus vir em seu movimento lento. A porta se abre em frente de mim, eu instantaneamente entro. O motorista me observa com um olhar analisador. "Eu pareço um produto? Tenho que ser aceito aqui?". Logo o motorista estende sua mão e eu lhe entrego o dinheiro. Quando levanto minha cabeça e visualizo todos aqueles passageiros olhando para mim, penso que sou um próprio manequim usando roupas de lojas diferentes e as pessoas analisando se está bom ou se devia mudar algo. Algumas só dão uma olhada e logo depois desviam para a janela. O vento frio do ar condicionado jorra-se em meus cabelos ainda molhados me dando uma sensação refrescante. Procuro um lugar, de preferência na janela, e me sento. Obrigatoriamente, a pessoa que está próxima, me olha. "Sou um imã!", penso. "Essa pessoas devem ter olhos de ferro". Alguns minutos depois, elas desviam o olhar. Eu fico em meu lugar, vislumbrando a bela paisagem do mar verde e um céu azul com uma pequena lua escondida na claridade do dia. Meus pensamentos acabam se perdendo e me lembro da garota. Agora ela é vista com mais detalhes. Seus olhos me encaram e eu tento observá-los melhor, forçando minha imaginação. Mas me perco novamente e sinto cheiro de café. O ônibus passa em frente da fábrica e o cheiro penetra nos narizes de todos. Escuto um gemido monossílabo e solto um pouco a boca, deixando-a deslizar pelo meu rosto. Volto para a paisagem e logo chego na hora da descida. A noite se aproxima e as nuvens em seus tons alaranjados se despendem do ônibus. Eu vou em direção ao meu posto, no qual terei de exercer meu cargo. Vou andando pela calçada e me perco novamente em pensamentos e criações perdidas, que logo virarão um livro. Mas acabo chegando na porta do posto. Um grande totem me observa e registra minha entrada. Entro pela porta principal e sou recebido por uma das criaturas a quem eu sirvo. Um sorriso, como sempre, é dado. Todos os sorrisos são falsos, todos sabem. Assim como as perguntas do estado físico e mental, se está tudo bem. Me dirijo ao cento do posto, abro a porta e vejo que lá já estão alguns dos que sirvo. Como sempre, sem sair da rotina, digo o mesmo "olá" e eles me respondem da mesma forma. Um dos companheiros de cargo me recebe e percebo que ele não é o único funcionário no estabelecimento. Logo, digo o mesmo "olá" para todos. Um bocejo é dado disfarçadamente, logo escondido por uma mão fechada. Livros e revistas observam a circulação do meio e telas radioativas mostram o que precisa ser visto. O companheiro de cargo me instrui do que devo fazer em meu turno, ou pelo menos devia me instruir. Me sento na cadeira acolchoada e sinto que meu cansaço começa a crescer a partir dali. Meus olhos piscam atrás de uma visão dos dias antigos, quando dormia um pouco mais e era mais relaxado. De repente, minha mente me alerta: "Simpatia! Simpatia". Logo meu primeiro serviço tem que ser exercido e um sorriso é dado em direção ao ser. Vozes diferentes, sonorizações e elogios são feitos para conquistar a simpatia de todos. Tem os estressados que não suportam gracinhas, mas mesmo assim tento puxar uma coisa para que faça surgir pelo menos um sorriso falso. Sugerir é uma das coisas que mais faço. Esse, aquele. Tudo bem explicadinho. Sempre que digo não, vem a explicação atrás. Nada melhor que satisfazer os seres. E no final, eu paro e recebo ordens. Algumas reclamações, pois ninguém é perfeito. Elogios, a melhor parte. Piadas e histórias são contadas e laços de amizade são feitos para que os seres se sintam bem. Chegam os apressados, não suportam esperar. Mas infelizmente, para eles, têm que esperar. Tudo na base da ordem de chegada. Facilidade de controle. Alguns seres fazendo barulho, "shh....". O silêncio tem que existir, chiados e os pequenos e rápidos barulhos que quebram toda uma cadeia de silêncio. Educados e não respeitosos. Crianças e idosos, todos seres. Programas da tela radioativa me ajudam e me fazem concluir meu trabalho. No final da noite, o fardo. Desligo tudo, pelo menos tento me lembrar. Saio e vou em direção a antiga parada de ônibus. São quase dez e treze da noite e espero ansiosamente o meu ônibus. Depois de falar com o ser que me acorda, vou ao encontro da cama. É um casulo, uma concha que me aceita como comida. Acolchoada e confortável. Me deito e minha mente se perde. A garota corre em minha direção. Ela me beija e finalmente recebo uma recompensa pelo dia cansativo. Era apenas uma ilusão recompensadora desse dia penoso. Meus olhos se fecham e se perdem numa névoa recheada de sonhos.
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